PORQUE NOSSAS OBRAS NÃO PODEM NOS SALVAR

Não se pode alcançar perdão e consequente salvação por qualquer que seja a obra de obediência. Não é através de obras, seja de caridade ou obediência a Lei de Deus, que se consegue a salvação, mas pela aceitação da morte de Jesus em pagamento pelos nossos pecados, devolvendo-nos o mérito de não-pecadores.

Em outras palavras, para sermos salvos na vinda de Jesus (para recebermos o prêmio da salvação eterna e irmos com Ele para o Céu), somente sem pecados, somente não tendo pecado jamais. Isso pressupõe que para salvar-se somente não transgredindo a Lei de Deus. Todavia, não é somente não transgredindo a Lei de Deus, mas não tendo transgredido. Todos nós já transgredimos e não tem como não termos pecados (Já somos culpados de termos cometido pecados) por mais que deixemos de transgredir daqui para frente. Eis, pois, nosso caso sem solução. Estamos condenados. Resta-nos, todavia, uma saída – invocar a morte de Jesus na cruz para cancelarmos os pecados que já cometemos.

Cometeremos, porém, outros pecados daqui para frente – todos os dias pecamos e seguiremos a pecar. Assim, nunca teremos mérito para receber a salvação e nunca a receberemos. Será assim, porém, se continuarmos insistido que nossos méritos são suficientes para resolver o problema de nossa culpa. Entretanto, se nos permitirmos ouvir a Palavra de Deus, descobriremos que Ele providenciou uma fuga – o sacrifício de Jesus na cruz. Cada vez que pecarmos, nos bastará invocar novamente esse sacrifício em pagamento dos novos pecados e eles já serão cancelados.

“Mas isso é abuso”, diria alguém. “Como poderia Deus perdoar continuamente a pessoas que pecam repetitiva e deliberadamente os mesmos pecados?”.

É verdade, isso seria mesmo abuso. Deus sabe, porém, que jamais conseguiremos cumprir toda a Sua vontade.

Diante disso, esse alguém diria: “Se jamais conseguiremos fazer toda a vontade de Deus, no que seremos então melhores do que os maus?”

Jesus trata disso no sermão da montanha, em Mateus 6 e 7.

Aí é que entra o amor nosso a Deus. Este é o ponto em que amar a Deus faz-se irremediavelmente necessário. Quando amarmos a Deus esse amor nos impulsionará a fazer a vontade dEle expressa em Sua Lei moral, os Dez Mandamentos. Neste sentido é que o apostolo Paulo diz em I Coríntios 8 que ainda que ele desse todos os seus bens aos pobres e até sua alma para ser queimada, de nada aproveitaria se não tivesse amor. Esse amor ao qual ele se refere é o amor nosso a Deus (não a próximo). Somente do amor a Deus pode brotar o genuíno amor ao próximo, aquele que (...) tudo crê, tudo suporta, tudo espera e jamais acaba (...0, como Paulo explica na sequência do capítulo. Se não for assim, nosso amor ao próximo é condicionado, é relativisado, flácido, é frágil, tudo o sufoca e derrota, desaparecendo quando não percebe o resultado e o aproveitamento da parte das pessoas a quem ele favorece.

Quando amamos alguém ou alguma obra queremos fazer tudo para agradar a pessoa e cooperar com tal obra que amamos. Se amarmos a Deus, faremos tudo que O agrada e buscaremos com grande interesse saber o que O agrada. E, nessa busca, acharemos Sua Lei, desejando então, com muita vontade, cumpri-la e ensinar os outros a cumprir em honra ao Deus que tanto amamos, pois queremos ver nosso Deus tão amado sendo honrado por todos. Aí é que Davi se mostrou ofendido quando o gigante filisteu zombava do Deus de Israel, que era o seu Deus amado.

Se amamos nossos pais, não ficamos felizes ao ver alguém a desonrá-los, especialmente nossos irmãos, seus filhos. Então queremos lembrá-los de que devem honrá-los também. Logo, se vimos algum deles a desonrar nossos pai e mãe, assim como não faríamos o que sabemos que os envergonharia, quereremos lembrá-los de não fazê-lo. E o que desonra nossos pais? O não obedecer aos ensinamentos que eles nos deram de como nos proteger e como sermos amáveis e gentis com todos, começando pelos de casa. Em outras palavras, o que os desonra é o não cumprir suas ordens e suas ordens e ensinamentos abrangem tudo em nossa vida. Aprendemos muitas coisas ao longo da vida, mas tudo o que fazemos tem os ensinamentos e ordens de nossos pais como parâmetro – como princípio. De igual modo, quando passamos a amar a Deus, adotamos todos os Seus ensinamentos como princípios e tudo que fizermos dali para frente é regrado com base nos ensinamentos e ordens de Deus, que estão registrados unicamente na Bíblia, em toda ela, mas sintetizados nos Dez Mandamentos.

Não conseguiremos, porém, cumprir tudo a risca, mas, à medida que nosso coração for se aprofundando no amor a Deus, mais desejo de agradá-lo ele terá e, assim como o atleta que treina faz cada vez melhor, assim também melhoraremos muito, resultando que pecaremos cada vez menos e cada vez menos teremos que estanhar a cara (ou passar pelo vexame) de nos chegarmos pecadores de novo diante de Deus e invocarmos a morte de Jesus inocente para perdão de mais um novo pecado.

Essa, portanto, é a diferença entre os crentes em Jesus e os não crentes – o não crente pode fazer obras de caridade maiores do que as obras de caridade do crente e tal obra servir unicamente para afastá-lo mais de Jesus, pois, por suas boas obras, ele se sentirá cada dia mais digno e meritoso, presumindo não carecer de perdão de Deus, não reconhecendo, portanto, que pecou, que peca e que precisa reconhecer isso para despir-se de seus méritos, aceitar os méritos de Jesus em lugar dos seus, receber o perdão e assumir que precisa ter a Lei moral de Deus como referência para viver uma vida correta da amor ao próximo, não apenas fazendo caridade para os necessitados, mas cumprindo o que se deve fazer para viver bem com todos, que é respeitar todos os direitos de todos e lembrar que todos são filhos do mesmo Deus.

Disso tudo, o resumo é que não adianta, sabendo que para alcançar a salvação somente sem pecados e que para não termos pecados somente cumprindo a Lei de Deus, sairmos fazendo desmedido esforço para cumprir a Lei. Jamais conseguiremos e o mero cumprimento da Lei não pagará pelos pecados que já cometemos. Precisamos antes permitir que Jesus nos ensine a amá-lo de forma tão intensa que estejamos dispostos a passar por cima de tudo para satisfazer a esse amor – para agradar a esse nosso Amado. E somente O amaremos tanto assim quando percebemos quão grande importância tem o que Ele fez por nós na cruz. E, somente entenderemos a real importância do que Ele fez por nós na cruz quando reconhecermos quão graves são os nossos pecados. Entretanto, jamais reconhecermos quão graves diante de Deus são os nossos pecados enquanto compararmos nossos pecados com os pecados dos outros, pois isso sempre fazemos com o intuito inconsciente de diminuir a gravidade dos nossos próprios pecados, pois, por piores que sejamos, não nos sentimos bem com nossos pecados, nossa consciência nos desacomoda, então nos comparamos com os piores para nos tranqüilizarmos vendo que não somos tão maus.

Resta-nos, portanto, admitir que pecamos com base na Lei de Deus (que transgredimos essa Lei), esvaziar-nos de nossos méritos morais (que estão baseados na bondade e honestidade que nos esforçamos para praticar e pensamos que temos satisfeito a completa exigência) e aceitarmos que para minimizar nossos pecados somente através dos méritos de Jesus na cruz em substituição aos nossos. Fazendo isso, se aceitarmos o castigo dEle em substituição ao que deveríamos sofrer, ficaremos em dívida moral com Ele e nosso coração quererá então cumprir a vontade dEle em retribuição ao favor e esse cumprir a vontade de Jesus será “amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos”. E, quando tivermos chegado a esse ponto, começaremos a praticar um tipo de caridade que não avalia os méritos dos recebedores, pois essa caridade é a caridade direta do coração de Deus e Ele faz o bem para bons e maus. Só aí é que nossa caridade e amor ao próximo terão sido intuídos por Deus.

Agradeço a Deus por ter me intuído todas estas palavras em apenas cinqüenta minutos nesta manhã, quando deveria estar me preocupando em fazer o meu trabalho e cuidar do meu ganho. Estou certo e desejoso de que esta explicação pode resolver a dúvida quanto a quem pode ser salvo e quem não pode, ajudando a ver com visão límpida e inteligente como Deus é justo e criou um meio infalível para melhorar a sociedade, ou, ao menos, a micro sociedade em que estamos inseridos, através do perdão como oportunidade e declaração de que vale a pena deixar os maus atos para voltar atrás e recomeçar vida nova se esforçando para fazer o bem, pois o bem não é apenas fazer caridade em nível de ajuda humanitária, pois ajuda humanitária é requerida onde há pobreza e miséria, ou seja, onde há desigualdade. Caridade também é viver de forma a não destruir as relações interpessoais, não prejudicar o próximo, não explorar os irmãos, não produzir a desigualdade social e a miséria, pois tudo isso é que leva à necessidade de fazerem-se obras humanitárias.

Quando entregamos nosso coração a Jesus e decidimos fazer a vontade dEle (guardar a Lei moral) a qualquer custo, Ele nos ensina que devemos combater a desigualdade desde a raiz e isso começa pela relação com todos que nos rodeiam, pois a desigualdade é fruto da indiferença de uns indivíduos para com os outros.

Wilson do Amaral