Entre a Fama e a Responsabilidade

Entre a Fama e a Responsabilidade.

Jorge Linhaça

Assim como outros irmãos e irmãs, por algumas vezes fico a imaginar o que impede que alguns de nós, com talentos para algum tipo de arte, não logremos alcançar a fama e o estrelato dentro de nossas áreas de atuação.

Não sei se existe uma resposta fácil para essa pergunta : Quanto mais jovens somos , mais angustiante pode nos parecer essa demora, por outro lado, quanto menos jovens somos ,mais distante nos parece a possibilidade de sermos reconhecidos ou abençoados com aquele momento mágico em que mundo por fim tome consciência de nossa existência.

No entanto, refletindo a respeito de casos conhecidos de membros e não membros que acabam por ingressar no seleto grupo de famosos e estrelas, verifico que a grande maioria deles perde muito mais do que ganha em sua trajetória. Principalmente os que se tornam ídolos, A pressão para manter-se no topo pode ser assustadora e, não raramente, as coisas do mundo tornam-se mais aprazíveis dos que os valores espirituais.

Algumas vezes ao longo de minha vida, cheguei a desfrutar de algum prestígio entre meus pares, em termos virtuais eu poderia até arriscar-me a dizer que de certa maneira logrei obter uma certa fama, convites pipocaram para sociedades literárias e grupos de prosa e poesia e eu fui me envolvendo cada vez mais nesse mundo. No entanto, bastou que eu transpusesse a margem do rio, abandonando os veros erotizados e as banalidades poéticas, buscando agregar valor aos meus poemas, buscando temáticas mais sérias e optando pelas formas mais clássicas para que meus supostos fãs minguassem rapidamente. Não que ninguém mais me leia, continuo a ter alguns admiradores entre aqueles que levam mais a sério a poesia e meus posicionamentos filosóficos diante da vida.

À bem da verdade, pouco me empenho em poetar já faz algum tempo, migrei para as crônicas e ensaios na tentativa não de agregar mais público, mas sim de tentar combater o senso comum que inibe a capacidade das pessoas de pensarem por si mesmas.

Tenho um amigo, membro da igreja, que há anos busca encontrar seu espaço na música. Homem talentoso, dono de uma bela voz, possui lá os seus fãs, tem lá sua plateia, mas volta e meia em nossas trocas de ideia surge este assunto do “não sucesso” segundo os moldes da mídia e do mercado fonográfico.

Para ser sincero, creio que a podridão, tanto no mercado fonográfico quanto no literário, que privilegiam edições de impacto com temas controversos ou letras de músicas que incitam ao uso de bebidas e promiscuidade sexual, voltadas apenas para o lucro fácil e o estrelato muitas vezes voláteis, não pode ser desprezado como um dos fatores determinantes para a falta daquele “BUUM” editorial ou musical. O mesmo aplica-se ao teatro e outros ramos da vida das artes.

Hoje, o sentimento que tenho a meu próprio respeito e que talvez se aplique a outros irmãos e irmãs que tem seus talentos direcionados nessas áreas é o de que, longe de ser um “descaso” de Deus com nossos esforços, é uma maneira de Deus preservar-nos de cedermos aos encantos do lucro fácil, à lisonja e ao sentimento de onipotência e desnecessidade de seguirmos nossos padrões e valores, sucumbindo a toda sorte de permissividade para manter nossos status de ídolos.

Há algum tempo removi de meu site do recanto das letras, uma boa quantidade de textos com centenas ou mesmo milhares de leituras, por considera-los inadequados perante os olhos do Criador. O impacto sobre o meu número de leituras foi bastante sensível, de modo que não creio ser exagero dizer, que na somatória dos textos extirpados e das leituras projetadas que se sucediam constantemente, devo ter perdido menos algumas dezenas de milhares de visitas. No entanto, arrisco-me a dizer que tenho qualificado a minha lista de leitores.

É bem provável que isso me custe ou tenha custado alguma oportunidade financeira no mercado editorial, ou não, no entanto fiz o que meu coração mandou, sei que a mão do Pai celeste está presente nessa decisão e sinceramente, embora continue imaginando o quão bom seria ganhar algum dinheiro com meu trabalho literário, espero que se e quando isso acontecer, não seja por conta de abrir mão das coisas em que creio, dos valores que defendo e muito menos do testemunho que possuo do evangelho.

Não tenho aquele perfil que me permita abandonar tudo isso para encontrar o louvor do mundo, já passei um pouco por isso mas, sinceramente, em nada me ajudou a ser feliz.

Bajulação jamais me agradou, quem me conheceu ao longo dos anos sabe que isso é verdade, sempre tive certo pavor das pessoas citarem publicamente algo que lhes tenha feito de bom, até porque, tudo que pude fazer de bom às pessoas não o fiz por mim mesmo, mas sim orientado por aquele que nos Criou.

Não que eu não goste de reconhecimento, apenas acho que existe uma diferença palpável entre ser um instrumento nas mãos de Deus e ser o articulador das coisas. Uma coisa é ser o cinzel, outra é ser o escultor, assim como uma coisa é ser teclado e outra coisa o escritor.

Enfim, prefiro ser lembrado por algumas poucas pessoas como alguém que de alguma maneira lhes trouxe uma influência positiva, do que por milhares ou milhões de pessoas a quem não acrescentei efetivamente nada além de um pouco de diversão.

Mas há de haver entre os irmãos quem discorde deste meu pensar, há de haver alguns que creem ser fortes o suficiente para não sucumbir aos efeitos da fama como a conhecemos, devem existir alguns que até mesmo estejam certos em suas suposições. No entanto só posso falar do que passei e senti e não por outras pessoas.

Examine o homem a si mesmo e avalie suas forças, no entanto, lembre-se sempre que é melhor andar com as rodas do caminhão o mais longe do precipício possível, afinal nenhum de nós espera ser tragado pelo abismo, ainda que no fundo dele haja um pote de ouro.

Salvador, 12 de maior de 2013.