Santificação

I. Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um novo coração e um novo espírito, são além disso santificados real e pessoalmente, pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado é neles todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadores, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá a Deus.

Ref. I Cor. 1:30; At. 20:32; Fil. 3:10; Rom. 6:5-6; João 17:17, 19; Ef. 5-26; II Tes 2:13; Rom. 6:6, 14; Gal. 5:24; Col., 1:10-11; Ef. 3:16-19; II Cor. 7:1; Col. 1:28, e 4:12; Heb. 12:14.

II. Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda persistem em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma guerra contínua e irreconciliável - a carne lutando contra o espírito e o espírito contra a carne.

Ref. I Tes 5:23; I João 1:10; Fil. 3:12; Gal. 5:17; I Ped.2:11.

III. Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que ficam, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.

Ref. Rom. 7:23, e 6:14; I João 5:4; Ef. 4:15-16; II Ped. 3:18; II Cor. 3:18, e 7: 1.

Cristo é também a nossa santificação, além da nossa justiça, sabedoria e redenção (I Cor 1.30), entretanto, na santificação, há que se considerar também as obras do crente, o seu esforço e diligência para que seja santificado, a purificação e fortalecimento da sua fé etc, entretanto, como é Deus mesmo quem nos santifica pela Palavra, a incluímos na parte referente ao que Jesus fez e tem feito por nós, e não na referente ao que devemos fazer para Jesus, apesar de ser cabível a inclusão do assunto também nesta parte.

Como vimos em nosso estudo sobre REGENERAÇÃO, o pecador passa a ser santo quando nasce de novo pelo Espírito. Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em uma nova criatura. Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a Deus. Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos crentes em todas as suas epístolas, chamando-os de santos, apesar de muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram muitos dos crentes coríntios (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1; 13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos, separados para Deus, apesar de não serem ainda crentes espirituais.

Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado a prosseguir em santidade, através do processo de santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida (Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes 5.23; Apo 22.11). Este processo consiste basicamente no despojamento das obras da carne (natureza terrena) e do revestimento das virtudes de Cristo.

O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a santificação devem ser seguidas de forma prática. Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na conversão.

Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção que há no mundo através da cobiça.

Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas, “santificação”. A santificação é uma coisa que cresce. Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no coração, um suspiro, uma aspiração. Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de mostarda até se tornar uma árvore. A santificação, no coração regenerado, é como criança, não está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não perfeita no seu desenvolvimento. Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura. Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e muitas falhas em nós mesmos, nós não devemos concluir que isto significa que não temos interesse na graça de Deus. A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que pulse de amor por Ele.

“Sem santificação ninguém verá o Senhor”. Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus nesta vida, e na vida por vir, sem santidade. “Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles acordo?”.

Santificação é uma palavra que significa mais do que purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos adornados com todas as virtudes de Cristo.

“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17. No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado, porque ele não tinha pecado. A santificação do Senhor era sua consagração ao completo propósito divino, sua absorção na vontade do Pai. Assim, nossa própria santificação também significa a nossa consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já que somos pecadores.

“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos. Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.

A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o trabalho do Espírito de Deus. Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza, somos inclinados ao pecado. Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas as coisas, desde que não temos nenhum poder para realizar tão grande trabalho em nós mesmos.

Somente a verdade não santifica o homem. Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o valor da nossa ortodoxia? Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai santifica usando a doutrina como meio. A verdade é o elemento em que nós devemos viver para sermos santos. A falsidade (mentira) conduz ao pecado; a verdade conduz à santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito da verdade, e por estes o erro e a verdade são usados como meios para se atingir o fim, respectivamente. A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à consciência, ao coração, senão o homem pode receber a verdade, e ainda permanecer na injustiça. Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem, que seu povo seja perfeitamente livre do mal. Ele os escolheu para que eles sejam seu povo peculiar, zeloso de boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira santidade. Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos aqueles que Deus em amor tomou para Si.

Tudo o que nos sucede na caminhada para o céu tem o propósito de preparar-nos para o fim de nossa jornada. Nosso caminho através do deserto tem por objetivo provar-nos, para que nossos males possam ser descobertos, e nos arrependermos, e assim nós possamos nos apresentar no fim sem máculas diante do trono. Nós estamos sendo educados pelos céus, para o encontro na assembleia dos perfeitos. Ainda não se manifestou o que nós seremos, nós seremos como Ele, porque nós o veremos assim como Ele é. Nós estamos sendo levantados: através de um duro combate, longa vigilância, e paciente espera, nós estamos sendo levantados em santidade. Estas tribulações que trilham o nosso trigo e que lançam a palha para longe, estas aflições que consomem nossas escórias, e que tornam nosso ouro mais puro. Todas as coisas operam juntamente para o bem daqueles que amam a Deus; e o resultado esperado de tudo isso será a apresentação dos escolhidos a Deus, não tendo mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante. Assim eu tenho lembrado a vocês que a oração por santificação é oferecida ao divino Pai, e isto nos conduz a cuidar-nos inteiramente para o nosso Deus. Não imaginem que esta santificação se seguirá necessariamente porque vocês ouvem um pregador sincero, ou por se unirem em sagrada adoração. Meus irmãos, Deus mesmo deve trabalhar em vocês, o Espírito Santo deve habitar em vocês, e isto só pode advir pela fé no Senhor Jesus. Creia nele para a sua santificação, assim como têm crido para o seu perdão e justificação. Somente Ele pode prover santificação a vocês, porque isto é um dom de Deus através de Jesus Cristo nosso Senhor.

Como a santificação é forjada nos crentes? “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”. Observem como Deus tem juntado a verdade e a santificação. Cristianismo é vida que cresce na verdade de Jesus Cristo, que é o caminho e a verdade tanto quanto é a vida, e ele não é propriamente recebido pelo salvo se ele não for aceito neste caráter triplo.

Nenhuma vida santa será produzida em nós por crer na falsidade. A santificação em seu caráter visível vem da edificação em fé no interior do coração, ou de outra forma é uma mera casca. Boas obras são o fruto da verdadeira fé, e a verdadeira fé é uma sincera crença na verdade. Cada verdade conduz à santificação, cada erro de doutrina, direta ou indiretamente conduz ao pecado. A deformação de entendimento trará inevitavelmente uma deformação da vida mais cedo ou mais tarde. A linha reta da verdade atuando no coração produzirá um curso direto de graciosa caminhada na vida.

Mesmo que o próprio Deus somente nos santifique pela verdade. Somente o ensino que é trazido da Palavra de Deus santificará vocês, e que nenhuma verdade fora da Palavra de Deus, não poderá santificar vocês. A matemática é uma verdade, mas ninguém é santificado por ela. O erro pode soprar sobre você, ele pode mesmo levar você a pensar que você está santificado, mas há uma grande e séria diferença entre ostentar santificação e estar santificado de fato, uma grande diferença entre sentir-se superior a outros e estar sendo realmente aceito por Deus. Creia-me, Deus trabalha a santificação em nós pela verdade da Palavra, e por nada mais. Mas o que é a verdade? Este é o ponto. A verdade é o que eu posso imaginar do que me seja revelado por alguma comunicação particular? Eu sou tão fantasista que eu me alegro em alguma especial revelação, e eu dirijo minha vida por vozes, sonhos e visões? Irmãos, não caiam nesta ilusão que é tão comum. A Palavra de Deus para nós é a Sagrada Escritura. Toda a verdade que santifica os homens está na Palavra de Deus. Não ouçam aqueles que clamam, “Ei-lo aqui!” e “Ei-lo lá!”. Faremos bem em atentar para a verdade revelada em Col 2.18: “Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo alguma na sua mente carnal.”. Deus pode usar sonhos e visões para alertar-nos e consolar-nos ou para qualquer outro propósito proveitoso, mas jamais o fará para salvar-nos ou para santificar-nos, porque a Palavra da verdade já está revelada de uma vez para sempre na Bíblia. Ela é o fundamento, a rocha, sobre a qual a igreja de Cristo é edificada.

A verdade nunca é a sua opinião, nem minha; sua mensagem, nem minha. Jesus disse, “a tua Palavra é a verdade”. O que santifica os homens não é apenas a verdade, mas a verdade que está revelada na Palavra de Deus. É uma bênção que toda a verdade que é necessária para santificar-nos está revelada na Palavra de Deus, tanto que nós não temos que gastar nossas energias tentando descobrir a verdade, mas podemos, para nosso maior proveito, usar a verdade revelada para tal propósito divino. Não haverá mais revelações da verdade, não são mais necessárias. O cânon está fixado e completo, e por isso se diz que nada deve ser retirado ou acrescentado à Palavra, sob a pena de lhe serem acrescentadas as pragas descritas em Apo 22.18,19. O Senhor nunca reescreveu ou reeditou Sua Palavra e certamente nunca o fará, porque ela, verdade que é, permanece para sempre. Nosso ensino pode estar cheio de erros, mas o Espírito não erra. A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos. A Escritura sozinha é a absoluta verdade, a essencial verdade, a decisiva verdade, a autoritativa verdade e a eterna verdade. A verdade que nos é dada na Palavra de Deus é o que santifica todos os crentes.

Aprendam, então, meus irmãos, como sinceramente vocês devem pesquisar as Escrituras. Vejam como devem persistentemente ler este Livro de Deus. Se ele é a verdade, e a verdade com que Deus nos santifica, estudemô-lo, nos apossemos e nos mantenhamos nele. Quando a verdade for totalmente usada, ela destruirá o pecado diariamente, nutrirá a graça, inspirará nobres desejos, e produzirá ações santas.

Um dos pontos de falha para ser mais profundamente lamentado seria a falha dos membros da igreja na santificação. Se vocês próprios agem como outros costumam fazer, que testemunho pode ser dado? Se suas famílias não são dirigidas graciosamente, se seus negócios não são conduzidos sob princípios da mais estrita integridade; se sua fala é questionável como a pureza da sua honestidade; se suas vidas estão abertas para sérias censuras – como pode Deus aceitá-los ou enviar bênçãos à igreja que vocês pertencem? Isto tudo é falsidade e engano falar que vocês são do povo de Deus quando mesmo os homens do mundo são desonrados por vocês. A fé de vocês no Senhor Jesus deve operar sobre suas vidas para torná-los fiéis e verdadeiros, isto deve operar constantemente em seus pensamentos, palavras e atos, ou então vocês nada conhecem sobre o poder salvador. Não me venham com suas experiências, e suas convicções, e suas profissões de fé, a menos que vocês santifiquem o nome de Deus em suas vidas. Nós temos obedecido a Palavra de Deus? Nós temos determinado, como igreja, guardar os velhos caminhos, temos abraçado a antiga fé? Que nós possamos nos entregar a isto para a nossa santificação. A Bíblia é o nosso tesouro. Nós devemos prezar cada folha dela. E entendermos de uma vez por todas que nada e ninguém mais além da própria Palavra são necessários para a nossa santificação (Jo 17.17).

Contra isto, está muito em voga atualmente, o falso pensamento que tem sido disseminado nas igrejas de que a santificação não pode ser iniciada a menos que as pessoas possam estar sob os cuidados de um conselheiro que seja capaz de trazer à tona traumas escondidos, coisas do passado, e que somente depois que a pessoa for libertada dos problemas do passado é que ela poderá tratar com o presente e com o futuro. Mas, não há nada nas Escrituras que sequer recomende tal coisa. A Bíblia recomenda exatamente o oposto, isto é, que a pessoa olhe para o futuro, para a sua santificação (Fil 3.13,14; Lam 3.21). O futuro espiritual do crente não está dependente do passado. Ele está dependente de sua ação presente com vistas ao futuro, não em sua ação presente para voltar ao passado. Quem está em Cristo é nova criatura, as cousas antigas já passaram (II Cor 5.17).

Geralmente, o retorno ao passado tem em vista descobrir um culpado por aquilo que somos no presente. Mas a Bíblia ensina claramente, que somos os únicos responsáveis pelo que somos e aí estão incluídos os nossos pecados. Desta forma, nada há para lucrar com o voltar ao passado e tentar descobrir algo no passado como um tipo de chave que descortinará o futuro. A chave para abrir o futuro está em agir no presente, colocando-se no Senhor Jesus, e não fazer provisão para a carne. Quando alguém entende que a santificação depende da possibilidade de se descobrir traumas passados para se curar deles, está dizendo basicamente que o Espírito Santo pode lhe santificar se puder achar um bom conselheiro para dar a partida em sua vida. Essa pessoa está dizendo que o Espírito Santo não pode tratar de qualquer coisa em relação ao presente e ao futuro até que alguém mais trate do seu passado.

Quando Jesus se referiu à grande realidade de que todos estão sujeitos às aflições do mundo, incluiu aí, tanto o passado, quanto o presente e o futuro. E apontou a sua vitória sobre o mundo como o fator onde podemos e devemos fixar o nosso bom ânimo em sermos também vitoriosos, caminhando pela fé nEle, que o trabalho de santificação do Espírito prosseguirá em nossas vidas, até chegarmos a ser perfeitos, na glória, assim como Jesus é perfeito. Ele é o nosso modelo. E fomos predestinados por Deus para sermos semelhantes a Ele (Rom 8.28,29).

Quando o Senhor diz “sede santos por que eu sou santo” o que está em foco é uma convocação direta a ser imitado. Jesus é o nosso exemplo de vida que devemos seguir, se desejamos de fato ser santificados. Por isso há várias convocações diretas na Palavra neste sentido em Mt 10.25; Fil 2.5; I Cor 11.1; Ef 5.1; I Ts 1.6; I Pe 2.21; I Jo 2.6; 4.17, entre outros. A imitação de Cristo está embutida na ordenança bíblica que nos manda revestir-nos de Cristo ou do novo homem, o que é a mesma coisa (Rom 13.14; Ef 4.24; Col 3.10). Cabe ressaltar que na regeneração já ocorreu um revestimento do novo homem, e um despojamento do velho homem, mas tanto uma coisa quanto outra (revestimento e despojamento) devem prosseguir na santificação. Quando encontramos na Palavra citações ao fato de já termos sido lavados, santificados, revestidos do novo homem e despojados do velho, a referência se aplica no caso à REGENERAÇÃO (novo nascimento), e quando há uma exortação no sentido de se prosseguir com o trabalho de purificação da alma, de despojamento da carne, mortificação da natureza terrena e revestimento de Cristo ou do novo homem, a referência então se aplica ao processo da SANTIFICAÇÃO que deve prosseguir por toda a vida, até que sejamos recebidos na glória.

A santificação consiste basicamente na ordenança de Rom 13.14: revestir-se de Cristo e nada dispor para a carne quanto às suas concupiscências. E para revestir-se externamente de Cristo é necessário primeiro conhecê-lo interiormente. Jesus deve ser recebido no coração por fé, antes de poder manifestar-se na vida pela santidade. Para que a luz apareça e ilumine é preciso primeiro acender a lâmpada. É assim que a luz do crente brilha no mundo, pelo testemunho de sua própria vida, pelas virtudes visíveis de Cristo que se manifestam na mesma. Esta luz pode brilhar mais em uns do que em outros, conforme o nível de sua consagração, e consequentemente, da sua santificação.

Assim, o exterior e visível deve ser precedido e inspirado pelo interior e invisível, para que o mundo não possa negar que somos filhos da luz e do dia (I Tes 5.5,8). Não basta que Cristo seja o alimento que sustém o homem interior, é também necessário que seja o vestido que cobre o homem exterior, e que deve ser visto pelo mundo, através do seu testemunho. O crente deve estar vestido de Cristo em todo o tempo, e deve estar de tal maneira vestido do Senhor que se confunda com Ele. Na conversão, quando é regenerado pelo Espírito esta exortação é cumprida num sentido parcial, pois o crente se reveste de Cristo como um manto de justiça. A justiça de Cristo que é imputada ao crente na justificação, e passa a ser dele, porque Cristo agora lhe pertence e ele a Cristo. Embora injusto por natureza, o crente passa a ser justo conforme já estudamos detalhadamente no assunto da JUSTIFICAÇÃO. Mas a ordenança de Rom 13.14 não se refere à justificação, mas à santificação. Entretanto o ato de revestir-se de Cristo só pode ser cumprido por aqueles que já foram justificados e regenerados, a saber, os crentes. Devemos nos revestir de Cristo, continuamente, para que a santidade de Cristo seja reproduzida em nossa conduta diária. Se é a Cristo que devemos ir para obter o perdão e a justificação, não devemos ir a outro para obter a santificação (I Cor 1.30). Havendo começado com Jesus, devemos seguir com Ele até o fim.

O ato de revestir-se de Cristo consiste em imitá-lo. Ele é o modelo, o único modelo que deve ser seguido pelos crentes. Devemos andar no mundo como Cristo andava.

Dizer “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” é o mesmo que dizer, “revesti-vos da perfeição”. Assim, o crente deve se revestir das virtudes que fazem parte do caráter de Jesus. Não de parte destas virtudes, mas de todas elas. Não é somente sua humildade ou doçura, ou amor, ou zelo o que devemos imitar, mas a sua completa santidade. A nossa comunhão com Cristo deve ser tão íntima, que a sua personalidade possa ser reproduzida em nós. A nossa vontade deve ser conformada à dEle. É a vontade de Deus que sejamos cada vez mais semelhantes a Jesus (Rom 8.29).

Lendo o texto de Col 3.12-14 vemos que Paulo está descrevendo o roupeiro do crente. As vestes que ali são descritas devem ser usadas permanentemente. Nenhuma delas deve ser deixada de lado. Todas devem ser vestidas. Não apenas no domingo, mas durante todos os dias da semana. As primeiras vestes citadas são a misericórdia e a bondade. Somos tão misericordiosos, benignos, ternos e compassivos com os nossos semelhantes como é o próprio Cristo? Esforçamo-nos para alcançá-lo? Se não, a nossa alegada santidade está nua em parte. Longe de nós a presunção da igreja de Laodiceia que lhe custou a reprimenda de Apo 3.17.

Em seguida são citadas como parte do vestuário de Cristo, a mansidão e a humildade. Jesus não oprime nem tiraniza a ninguém. Ele foi sempre humilde, manso e cheio de graça, sendo o Mestre de todos, e o Senhor dos senhores. Vocês são arrogantes e duros por natureza? Revistam-se de Cristo. Lutem contra o seu mau humor, e procurem ser semelhantes a seu Mestre que era manso e humilde de coração. Há também os vestidos da tolerância e da paciência no trato com os semelhantes.

Há crentes que se não fazem tudo a seu gosto, logo se encolerizam. São egoístas, obstinados, iracundos e suscetíveis. Estas vestes da velha natureza devem ser trocadas pelas vestes de Jesus da tolerância e da paciência. Devemos ser pacientes ainda quando tenhamos sido vítimas de grandes injustiças: mais vale sofrer do que devolver mal por mal (Rom 12.17-21; I Pe 2.19-23; 4.12-14).

O apóstolo segue dizendo: “Perdoai-vos mutuamente...”. Não é evidente que tal ensino venha do céu? Tratemos pois de colocá-lo por obra. Vesti-vos do Espírito de Cristo, e sua língua não soltará palavras tão amargas. Vesti-vos do seu amor, e seu coração não abrigará sentimentos tão ásperos. Que suas almas se encham de sua santidade, e de boa vontade perdoarão, não sete, mas setenta vezes sete.

Agora, o cinturão que mantém em seu lugar cada peça deste vestuário espiritual: “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.”. Este cinturão é divino: o amor. Tudo o que temos feito tem muito pouco valor se nossas animosidades não têm sido sepultadas com o velho homem. Ainda que tenhamos muitos defeitos que não nos falte o amor pelo Senhor e nossos semelhantes.

E finalmente: “a paz de Deus governe os seus corações e sejam agradecidos.”. A gratidão deve ser achada entre os discípulos de Jesus. Bem-aventurada a alma que está em plena possessão de si mesma, sempre tranquila e descansada. Se desejamos ser semelhantes a Jesus devemos estar vestidos da Sua paz.

Uma pessoa que está se santificando, além das virtudes destacadas em Col 3.12-14 também possui: submissão, domínio próprio, auto negação, amor fraternal por seus irmãos em Cristo, pureza de coração, temor de Deus, fidelidade em todos os deveres e relacionamentos e todas as demais virtudes que caracterizam o crente fiel, segundo o que está revelado na Bíblia.

Apesar de estarmos revestidos de Jesus temos necessidade ainda de lutar contra a carne como se diz em Rom 13.14. Não devemos ser indulgentes com a carne, nem desculpá-la. Nunca digamos: “Cristo me tem perdoado porque tenho mau gênio, e não posso livrar-me dele.”. Nunca justifiquemos aquilo que em nós não se encontra na natureza de Cristo.

Alguém pode dizer: “Sou muito alegre por natureza e assim, um pouco de prazer mundano me é necessário.”. Jogo perigoso ! Está fazendo o que a Palavra proíbe. Está adulando a carne para satisfazer os seus desejos. Cuidado ! Não se deve dar trégua ao pecado, nem por um dia, uma hora, um minuto, um segundo. Nossa obediência deve ser sem interrupção. Não devemos consentir que a carne levante a cabeça, pois não se pode saber até onde é capaz de arrastar-nos. A carne é voraz e nunca se sacia. Não devemos dar-lhe nem ainda as migalhas que caem da mesa. Revesti-vos do Senhor Jesus e já não haverá lugar para as concupiscências da carne. O pecado está onde Cristo não está. Qual é o vestido de casamento que nos fará dignos de ir ao encontro de Cristo e participar do Seu triunfo? É o próprio Cristo. Se aqui neste mundo Ele é meu adorno, e minha formosura, posso estar seguro de que Ele será minha glória durante a eternidade.

A carne é tão ardilosa que os próprios mandamentos de Deus que nos são dados para vida (Rom 7.10) ela os utiliza para reviver o pecado (a carne gosta do que é proibido – Rom 7.9), e assim, o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo próprio mandamento nos engana e mata (Rom 7.11). Diante de um inimigo tão ardiloso, que ainda opera na natureza terrena do crente, toda vigilância e cuidado são poucos. Sendo necessário, principalmente estar alerta para a presunção espiritual. Na busca da santificação devemos estar alertas para o perigo da presunção espiritual sobre a qual somos exortados em I Cor 10.12: “Aquele, pois que pensa estar de pé tome cuidado para não cair.” (ainda que não seja uma queda para perdição eterna).

O diabo e a nossa própria carne (natureza terrena) podem nos enganar imitando com o vício da presunção, a virtude da completa segurança da fé, que é uma das bênçãos que é obtida com o verdadeiro progresso na santificação, quando a salvação pela graça, mediante a fé, caminha rumo à perfeição, pelo amadurecimento na confiança no Senhor e no trabalho que Sua graça tem realizado em nós.

Temos o grande direito de crer que estamos de pé, se cremos que o estamos através do poder de Deus. Pois, quando cremos que estamos de pé, sem que haja comunhão real com o Senhor, quando damos acolhida a pequenos pecados que sejam, quando não há mais um trabalho de santificação na vida, porque não o buscamos, e vivemos segundo o mundo, então se aplica a nós o que o texto afirma: “aquele que pensa”. Pensamos que estamos de pé, mas de fato não estamos. Estamos sim, rumo a uma queda, que ainda que não seja final, há de nos manter afastados da comunhão com o Senhor, por apagarmos o Espírito Santo (I Tes 5.19; Tg 4.4, 8-10).

Assim, não estamos falando contra a fé poderosa que alguém alega possuir. Quem dera todos a possuíssemos. Mas estamos falando contra esta presunção não santa.

Há muitos que se aventuram no meio da tentação, frequentando companhias, locais, situações que são fontes de tentação, e que se gabam dizendo: “você pensa que eu sou fraco para pecar?”. “Não, eu estarei de pé!”. “Dê-me um copo de bebida; eu nunca serei um alcoólatra.”. “Dê-me a pornografia em suas variadas formas (TV, vídeos, internet, casas de má fama etc) e eu me manterei puro em meu corpo e espírito.”. Assim são as pessoas presunçosas.

Não é preciso ir muito longe para achá-los. A própria igreja está repleta deles. Há em cada igreja homens que pensam estar de pé; homens que se gabam em si mesmos por imaginarem ter força e poder, mas não vivem a vida dos filhos de Deus, eles não têm sido humilhados ou quebrados em espírito, ou se têm sido, adotam uma segurança carnal até que se transformem em gigantes que pisam a flor da humildade sob os seus pés.

Qualquer crente está sujeito a ser presunçoso, cedendo a uma falsa segurança carnal. É um mal contra o qual devemos sempre vigiar, daí a exortação do Espírito pela boca de Paulo em I Cor 10.12.

São fatores que, dentre outros, podem favorecer a presunção:

1 – Prosperidade mundana – “eu estou de pé, e a minha prosperidade prova isto”, é o que diz o presunçoso.

2 – Pensamentos leves sobre o pecado – perde-se o temor de pecar que se sentia quando era novo convertido. “Não é um pequeno pecado?” – diz o presunçoso, e ainda: “Nós tropeçamos um pouco, falamos e fazemos umas poucas cousas não santas, mas no tocante à maior parte da nossa vida espiritual temos sido perseverantes.”.

Pecado – uma pequena coisa! Isto não é um veneno ! Quem sabe que isto pode causar a morte? Pecado – uma pequena coisa ! Não podem as rapozinhas estragarem a vinha? Pecado – uma pequena coisa ! Não podem os pequenos golpes do machado derrubar o carvalho imponente? Pecado – uma pequena coisa ! Ele te fará sofrer angústia, amargor e infelicidade, até que venhas a ficar endurecido.

3 – Fracos pensamentos sobre o valor da fé. Nenhum de nós valoriza a fé o suficiente. Baixos pensamentos acerca de Cristo, significa baixos pensamentos acerca do estado eterno das nossas almas e do valor da fé que nos salva e santifica. Isto nos conduz a sermos descuidados com a segurança da nossa salvação. Tomemos cuidado com as fracas e baixas ideias sobre o evangelho, para que não sejamos apanhados repentinamente pelo mal. A palavra do evangelho é o poder para a salvação de todo o que crê. É uma palavra mais do que preciosa, de valor inestimável. E é assim que nos convém estimar a Palavra de Deus.

4 – Ignorância sobre o que somos e sobre onde somos firmados. Muitos crentes não têm aprendido ainda o que eles são. O primeiro ensino de Deus é revelar qual é a condição real da nossa natureza terrena, que devemos mortificar continuamente pelo Espírito (Col 3.5). Mas não chegamos a conhecer isto perfeitamente, mesmo depois de muitos anos de termos conhecido Jesus. A corrupção dos nossos corações não é desenvolvida em apenas uma hora. Há crentes que pensam que têm um bom coração. Jeremias tinha um coração melhor do que o deles e mesmo assim disse: “o coração é enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jer 17.9). A visão do coração humano em seu real estado, é uma visão terrível que só o Senhor conhece perfeitamente (Jer 17.10). A ignorância disto nos faz presunçosos, pois dizemos: “eu tenho uma boa natureza, uma nobre disposição, não estou sujeito a nenhuma paixão que alguns têm; estou de pé, seguro; minhas inclinações para o mal são relativamente ocasionais.”.

É preciso estar consciente na constante luta entre a velha natureza e a nova, que se trava no coração de qualquer crente, para que, em vigilância e oração constantes, possamos estar de pé diante do trono.

5 – O orgulho é a mais grave causa da presunção. Ele pode se manifestar de variadas formas:

a) Orgulho do talento. Faz com que nos sintamos superiores ao nos compararmos com outros.

b) Orgulho da graça. É uma espécie de graça arrogante e orgulhosa que leva o crente a dizer: “eu tenho grande fé, eu não falho, há os que fraquejam na fé, mas eu não.”. Os que se gabam da graça têm uma pequena graça para se gabar. Se não alimentamos a lâmpada continuamente com o óleo do Espírito, ainda que ela brilhe hoje, amanhã estará apagada.

c) Orgulho dos privilégios – sucesso ministerial, cargos exercidos na igreja, não são em si mesmos garantia para se estar de pé. O orgulho pelas cousas que nos têm trazido privilégios no reino de Deus podem gerar presunção. O orgulho precede a queda, e o espírito soberbo é responsável pela destruição. Tomemos cuidado, e vigiemos nossos passos.

O verdadeiro crente, ainda que não tenha a possibilidade de sofrer uma queda final, está muito propenso a cair. Qualquer crente pode se desviar do caminho, e quando se desvia, se acometerá a si mesmo com muitas tristezas.

O crente que pensa estar de pé definitivamente, e que não depende da graça diariamente, buscando santificar-se mais e mais, está muito mais exposto ao perigo de cair mais do que outros, porque será descuidado em meio à tentação. Ele pensa que é muito forte, e em meio aos ataques do inimigo mantém sua espada na bainha, e nem sequer dá-se conta da luta espiritual, e assim, não ora, não medita na Palavra para aplicá-la à vida, não tem compromisso real com Cristo, não frequenta a igreja com assiduidade, confia em sua prosperidade material e financeira, e considera a falta de tribulações como sinal da aprovação e bênção de Deus. Vale lembrar que o Espírito Santo abandona os corações onde habita o orgulho. Ele não se demorará em tal companhia. A graça é dada a quem se humilha e é negada a quem se exalta.

Nunca podemos dizer que a santificação chega ao amadurecimento e perfeição total, ou que todas as virtudes citadas até aqui, especialmente as de Col 3.12-14, sejam achadas em total florescimento e força para que possamos dizer que a pessoa é santa. Não, longe disto. A santificação é sempre um trabalho progressivo. As virtudes ou graças de algumas pessoas são como plantas em germinação, em outras, como plantas crescidas, e ainda em outras como plantas maduras com frutos. Mas todas elas tiveram um começo. Nós nunca devemos desprezar “o dia dos humildes começos” (Zac 4.10). E a santificação neste mundo, no melhor, é um trabalho imperfeito. A história dos maiores santos que já viveram contem muitos “poréns” e “todavias” e “emboras”, antes de você chegar ao fim. O ouro nunca será sem algumas escórias e nós nunca brilharemos sem algumas nuvens, até que alcancemos a Jerusalém celestial. Os homens e mulheres mais santificados têm tido muitas manchas e defeitos quando comparados com o padrão elevado e santo da Palavra de Deus. Suas vidas estão continuamente em guerra com o pecado, e o diabo; e algumas vezes vocês os verão não submetendo, mas sendo submetidos. A carne está sempre lutando contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, e “todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2; Gál 5.17).

Mas ainda, além de tudo isto, eu estou certo que para ter o tipo de caráter que eu tenho fracamente traçado é o desejo do coração e a oração de todos os verdadeiros crentes. Eles perseguem este alvo mesmo que eles não o alcancem. Eles podem não alcançar isto, mas eles sempre almejam isto. É para isto que eles se esforçam e trabalham para ser, se não é isto o que eles são. E corajosa e confiantemente eu digo, que a verdadeira santificação é uma grande realidade. Ela é algo que pode ser visto nos homens e mulheres, e mesmo em crianças, e que pode ser sentido por todos ao seu redor. Eu sei que o caminho pode ir de um ponto a outro, e ter muitas curvas e deformações, e a pessoa pode ser verdadeiramente santa, e ainda ser rodeada por muitas fraquezas. O ouro não é menos ouro porque está misturado com alguma liga metálica; nem a luz é menos luz porque é fraca e turva; nem a graça é menos graça porque é jovem e fraca. Mas depois de todas estas considerações eu não posso dizer que uma pessoa mereça ser chamada “santa” que deliberadamente se permite continuar habitualmente nos seus pecados, e que não se sente envergonhada por causa deles. Eu não ousaria chamar de “santo” quem faz um hábito deliberado negligenciar os deveres conhecidos, e que pratica aquilo que sabe que Deus tem claramente proibido em Sua Palavra. John Owen expressou-se muito bem quanto a isto: “Eu não entendo como um homem pode ser um crente verdadeiro sem que o seu pecado não lhe seja a maior aflição, tristeza e problema.”.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/12/2013
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