A chave da questão

“E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mat 16; 19

Duas concepções doentias foram derivadas dessa afirmação. O catolicismo vê a instituição do “Primado de Pedro” que foi convertido no papado. A tradição popular viu aí uma delegação meteorológica; Pedro passou a ser o manda-chuva.

Hoje, uma vizinha que respirava aliviada pela volta do sol após uma grande enchente que assolou o estado, disse que esperava que São Pedro se comportasse e fechasse as portas do céu. Quando repliquei que a chuva não vem do céu, mas, da Terra deu uma sonora gargalhada com pena de mim. Ela é uma pessoa simples, claro! Com muito jeito e alguns exemplos pude convencê-la que estava certo. Que a chuva é fruto da água que evapora, condensa-se em nuvens e se precipita em condições favoráveis.

Isso é compreensível em pessoas sem instrução. Acontece que é comum em previsões do tempo feitas por repórteres de TV usar a mesma maneira atribuindo a Pedro o comando do ciclo das águas. Por que isso acontece? Difícil dizer, mas, podemos especular. Talvez por identificação com o povo, para facilitar o entendimento; ou, preguiça mental que seria o “esforço” de buscar um termo correto. O que fica difícil defender é que alguém se instrua deixando crendices tolas e galgando o conhecimento, para, depois, baixar ao nível da ignorância outra vez. Invés de usar suas asas para ensinar o voo, abdicá-las e voltar à sina réptil.

Quanto à interpretação Vaticana das chaves de Pedro muito já se debateu e as paixões usurpam a razão nesses casos, de modo que para o catolicismo ceder a um argumento diverso equivaleria a assumir erros milenares. Isso não farão.

Todavia, chave serve para abrir portas. Jesus disse sobre o Reino: “Eu sou a Porta.” O que “abre” Jesus à compreensão dos que são chamados ao Reino é a saudável exposição de Sua mensagem. Essa honra coube primeiro, a Pedro, que, segundo o registro de Atos, abriu a porta para mais de cinco mil almas, com sua pregação.

Quando disse, O Senhor; “Tudo o que ligares na Terra terá sido ligado no Céu” não estava colocando Pedro adiante de Deus, como quem recomenda a Ele quais devem ser salvos; antes, identificando a cooperação do Espírito Santo, agente do Céu que vivifica a mensagem e convence corações.

Quando alguém diz a “Pedro” um mensageiro qualquer, eu aceito, quero ser batizado, já foi ligado nos Céus; ou seja, convencido pelo Espírito Santo. Ao homem resta apenas confirmar ritualmente o que Deus já fez em essência.

“Em quem também vós estais depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Ef 1; 13 “ouvir a Palavra da Verdade”; girar a chave. Crer; ser convencido Pelo Espírito Santo; ser selado; passar a ser habitado pelo Espírito após a conversão.

O mesmo Pedro, aliás, se encarrega de duas coisas importantes a respeito. Primeira: Desqualifica os “contos do vigário”. “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade.” II Ped 1; 16 Segunda: Remete toda a direção e interpretação da mensagem a Seu Autor intelectual, o Espírito Santo vetando idiossincrasias. “E temos mui firme a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” VS 19 a 21

Assim, se alguém posa de intérprete segundo O Espírito, a mensagem não pode destoar do demais que foi concedido a Profetas e apóstolos pelo mesmo Autor. Qualquer coisa espúria equivale a fundar casa na areia.

Somos chamados a algo mais sólido, porém; “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.” Ef 2; 20 a 22

A graça do Espírito não é privilégio de instituições, antes, da soberana chamada Divina. “Porque a promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.” Ato 3; 39