Até Onde é Lícito se Preocupar

 

João Calvino


"Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos"?   Mt 6:31
"Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas"; Mt 6:32
 
"Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações". 
Lc 12: 29
"Porque os gentios de todo o mundo é que procuram estas coisas; mas vosso Pai sabe que necessitais delas". 
Lc 12:30
 
Isso tem o mesmo objeto da doutrina anterior. Os crentes devem contar com o cuidado paternal de Deus, esperar que ele irá conceder-lhes o que eles sentem ser necessário, e não atormentarem-se por ansiedade desnecessária.
Ele os proíbe de estarem ansiosos, ou, como Lucas o expressa em viver à procura, ou seja, buscar à maneira de quem olha ao seu redor em todas as direções, sem olhar para Deus, em quem somente o olhar deve estar focado; que nunca estão à vontade, senão quando têm diante de seus olhos uma abundância de provisões; e aqueles que, não admitindo que a proteção do mundo pertence a Deus, se afligem com   inquietação perpétua.

 

“Porque os gentios é que procuram todas estas coisas”. Mt 6: 32

Esta é uma repreensão da ignorância bruta, em que todas essas ansiedades se originam, pois isto sucede, porque os incrédulos nunca permanecem num estado de tranquilidade, porque imaginam que Deus está inoperante ou dormindo no céu, ou pelo menos, que ele não se interessa pelos assuntos de homens, ou com sua alimentação, na condição de membros de sua família aqueles a quem ele admitiu à sua amizade.

 

Por esta comparação ele dá a entender, que fizeram pouco da proficiência, e ainda não aprenderam as primeiras lições de piedade, aqueles que não contemplarem, com os olhos da fé, a mão de Deus enchendo com abundância secreta todas as coisas boas, para esperarem seu alimento com serenidade e compostura.

Seu Pai celestial sabe que vocês precisam dessas coisas, ou seja, "todas as pessoas que estão tão preocupadas com comida, não dão mais honra do que os incrédulos à bondade paternal e providência secreta de Deus."
 

“Não andeis, pois, a indagar”. Lc 12: 29

Este período corresponde à última frase da passagem tirada de Mateus;

“Não vos inquieteis com o dia de amanhã”.

Nosso Senhor agora os repreende por outro erro. Quando os homens desejarem tomar providências em seu próprio favor, eles estariam dispostos a abraçar cinco séculos.

O verbo μετεωρίζεσθαι, que Lucas emprega apropriadamente significa "examinar uma situação imponente", ou, como comumente dizem, "fazer longos discursos"; porque os desejos imoderados da carne nunca estão satisfeitos, sem fazer uma centena de revoluções do céu e da terra.

A consequência é que eles não deixam espaço para a providência de Deus. Esta é uma reprovação por causa de preocupação excessiva, pois ela nos leva a trazer sobre nós mesmos inquietação para nenhum propósito, e de própria vontade fazer-nos infelizes antes da hora.  (Mt 8: 29)
 
"Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal".  Mateus 6:34
A expressão usada por Mateus, sua própria aflição é suficiente para o dia, ou basta a cada dia o próprio mal, dirige os crentes a moderarem suas preocupações e não tentarem levar sua visão para além dos limites de sua vocação; pois como já dissemos, ele não condena todo o tipo de cuidados, mas somente os que vagueiam por circuitos indiretos e intermináveis​​, para além dos limites.
 
 

 

 

 

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra. 

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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/08/2014
Reeditado em 01/12/2023
Código do texto: T4938958
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