Andar Humildemente com Deus

Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.

"Ele te declarou, ó homem, o que é bom, e o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miqueias 6.8)

Vamos comentar principalmente a última frase - "andes humildemente com o teu Deus." O homem pergunta: "Por que eu deveria vir diante do Senhor e me inclinar diante do Deus Altíssimo?" e, ainda: "Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? O Senhor ficará satisfeito com milhares de carneiros, ou com milhares de rios de azeite?" Sacrifício de algum tipo é a sua ideia - ele supõe que deve oferecer o sacrifício de si mesmo se pudesse fazê-lo. A resposta que lhe é dada o repreende pela suposição de que ele deve responder à sua própria pergunta, pois assim começa - "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede de ti?"

Se estivéssemos atentos à voz de Deus, não deveríamos agora estar nos perguntando: "com que eu deveria adorar ao Senhor?" pois Ele já nos mostrou o caminho. A adoração a Deus é assunto de revelação, não de invenção. A verdadeira religião não é um novo projeto que indica o gosto de cada homem, mas uma cópia de um plano, enquadrado e fixado pelo próprio Senhor. Devemos seguir um caminho bem definido e não traçar um rumo para nós mesmos. Nós não somos como crianças chorando no escuro procurando um pai desconhecido que buscamos do nosso próprio modo, mas somos como meninos que seguem onde a mão aquecida do Amor nos chama gentilmente. Para nós não é noite, porque a verdadeira luz surgiu e está brilhando em torno de nós - o Pai se revelou e temos a unção do Santo, de maneira que todas as coisas necessárias para esta vida e piedade sejam retiradas da região do desconhecido e colocadas entre os assuntos sobre os quais o profeta diz: "Ele te declarou, ó homem".

A verdadeira adoração a Deus não é deixada como uma questão de conjectura, a ser elaborada por pensamentos de um homem a partir de dentro, mas é uma questão de revelação distinta a ser recebido pela fé, do Alto. Todos nós sabemos isso? Não haverá alguém entre nós, ou pelo menos em torno de nós, que deseja ter a sua religião própria? Não é esta uma das loucuras especiais da época? Vamos escapar dessa armadilha! "Ele te declarou, ó homem, o que é bom." Abstenha-se, portanto, de invenções. Quando temos chegado ao conhecimento de Deus, dele mesmo, do que são Seus requisitos, torna-se traição debater o que nos foi revelado! A declaração inspirada pela Sabedoria Infinita satisfaz cada coração leal. Do que Deus diz que é para ser aceito como um fato final - levantar questões é um método confuso de chamar Deus de mentiroso.

Ele diz: "O que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?" Parece, então, que é muito mais importante fazer o bem do que realizar os mais imponentes ritos religiosos – é melhor agir com misericórdia do que oferecer o maior número de sacrifícios custosos. Muito mais valor está ligado ao caráter moral de um homem do que a toda a sua religiosidade exterior. As ações justas e generosas da vida diária são melhores sinais de um coração gracioso do que presentes caros para o templo e seus sacerdotes.

"Obedecer é melhor que sacrificar e ouvir do que a gordura de carneiros." Aqueles que são aceitáveis a Deus são os que fazem justiça, amam a misericórdia e caminhar humildemente com ele. Todo homem que é um verdadeiro cristão pratica a justiça. Se a fé não torna um homem honesto, não é uma fé sincera! Se a nossa conversão não nos faz retos, que o Senhor possa nos converter novamente! Quando o coração de um homem é justo diante de Deus, ele anseia para lidar corretamente com seus semelhantes. Aquele que foi lavado no sangue de Jesus Cristo não se contamina consciente e deliberadamente com o ganho injusto. Ele almeja ser justo com seus empregados, seus clientes, com o seu empregador. Tampouco isso é tudo, porque ele ama a misericórdia. Ele tenta amar o próximo como a si mesmo. Se houver um ato de bondade para ser feito, ele se deleita em fazê-lo, se houver miséria para ser ajudada e aliviada, ele diz: "Deixe-me dar uma mão nisto, pois é bom para mim fazer o bem." O homem que é amado pelo Todo-Misericordioso é aquele que ama a misericórdia. O Deus de misericórdia não pode ter prazer no grosseiro e brutal. O endurecido, o cruel, o opressivo, a severidade implacável - não é com isto que o Senhor se agrada.

Outro ponto permanece. É a terceira coisa e esta é da maior importância: "andes humildemente com o teu Deus." Isso é uma atitude interna, mas pouco observada. É bastante observável nas suas consequências, mas não em si mesma e, por conseguinte, muito susceptível de ser ignorada. "Andes humildemente com o teu Deus" é tão necessário quanto que pratiques a justiça e ames a misericórdia, mas poucos há que o fazem e, por isso, neste momento eu sinceramente insisto sobre este ponto vital e essencial.

I. Em primeiro lugar, irmãos e irmãs, podemos dizer da vida humilde que Deus exige e aceita que ela é excelente em si mesma. Esta é uma das coisas que são boas, boa moralmente, boa no seu efeito presente, boa em resultados eternos. Nada é melhor para você, ó homem, que andes humildemente com o teu Deus. Caminhada humilde com Deus significa, em primeiro lugar, a percepção do Ser e da presença de Deus. Nós devemos reconhecer claramente que há um Deus e que Ele está perto de nós, que Ele é real e verdadeiro, e que nós estamos vivendo em proximidade real a Ele.

Devemos caminhar com Ele, e isso não pode ser feito a menos que saibamos que Ele está perto - homens não andam com mitos ou ideias, ou vivências remotas. Ter um Deus real é a espinha dorsal do caráter e manter relações com Ele no dia a dia é o braço direito da piedade. Como muitos vivem como se Deus fosse uma nulidade, um sonho, uma fábula teológica, uma fantasia respeitável e nada mais? Mas o caráter aceitável é formado principalmente pelo fato de que existe Deus e que Deus nos rodeia. É somente experimentando conscientemente a própria luz da face de Deus, que a verdadeira santidade pode ser produzida e amadurecida. O homem de Deus é movido à ação, ajudado na perseverança, revigorado com coragem, incendiado com zelo, elevado em devoção e purificado na vida pela Presença de Deus.

"Andar" com Deus denota um hábito ativo, uma comunhão nos movimentos comuns do dia. Alguns se curvam humildemente diante de Deus na hora da oração. Outros se ajoelham humildemente em Sua presença no momento da meditação e outros se aproximam de Deus em épocas de excitamento religioso. Mas tudo isso está longe de caminhar com Deus. Andar com Deus significa estar com Deus sempre, estar com Deus em coisas comuns, estar com Ele na segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, bem como no domingo!

Significa estar com Ele na loja, com ele na cozinha, com ele no campo, sentindo a sua presença na compra e na venda, na pesagem e medição, no arar e no colher - fazer como para o Senhor os atos mais comuns da vida.

Caminhar humildemente com Deus envolve uma profunda deferência à Sua vontade e uma alegre submissão nisto - rendendo tanto uma ativa obediência quanto uma aquiescência passiva.

Se alguém vive e age realmente como à vista de Deus, a sua vida deve ser de uma eminente santidade e, se sob um senso da glória de Deus, ele permanece em profunda humildade de espírito, podemos esperar ver como em tudo ele é manso e tranquilo. Tal como o seu Senhor, ele será manso e humilde de coração. Ele não vai dominar seus semelhantes. Ele não será duro, cruel e arrogante. Ele não pode ser! Aquele que sente que deve andar com grande suavidade e ternura diante do seu Deus não pode pisar nos outros. Você não vai vê-lo agindo de forma desdenhosa, elevando sua cabeça entre as estrelas como se fosse uma grande personalidade. Não, ele aprendeu a andar humildemente com Deus e ele pensa de si moderadamente, como ele deveria pensar. Porque se um homem se colocasse em humildade diante de Deus e oprimisse seus semelhantes, isto seria hipocrisia do tipo mais vil. Infelizmente, isto é muitas vezes visto, mas fuja desta falsidade, e em verdade, "ande humildemente com Deus."

A verdadeira humildade gera gentileza, ternura, a semelhança de Cristo da qual os homens podem zombar por um tempo, mas que, na maioria das vezes, ganha seus corações. Quanto mais instruídos, logo eles tomam conhecimento de um homem humilde de espírito que ele é assim por ter ficado com Jesus e aprendido dEle. "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra."

II. Em segundo lugar, este caminhar humildemente com Deus é muito importante, pois é uma prova de salvação. O homem que anda humildemente com Deus é um homem salvo - o homem que não anda humildemente com Deus deve questionar a sua condição diante de Deus, na proporção em que ele falha aqui, ele falha completamente. Vamos fazer algumas perguntas a respeito deste assunto. Amigo, se você está andando humildemente com Deus você tem tomado o seu lugar certo como um pecador condenado pela Lei, pois, certamente, você quebrou a Lei e a Lei exige obediência absolutamente perfeita, a qual você nunca rendeu e nunca vai render! A Lei de Deus, então, tem condenado você – você tem condenado a si mesmo? Você já tomou o seu lugar como um condenado e se declarou culpado diante de Deus?

Se você não tiver feito isso, sua visão de si mesmo é diferente da que Deus tem de você. Sua visão de si mesmo é orgulhosa e você não está andando humildemente com Deus e não é salvo. Quem nunca se sentiu perdido nunca se sentiu salvo, aquele que nunca se confessou culpado nunca foi perdoado. Aquele, que nunca aceitou a sentença que o condena nunca recebeu o perdão que absolve. Observe isto. Ainda, se você está andando humildemente com Deus você tem dado a Jesus Cristo, seu lugar certo. O que é isso? Ele veio ao mundo para ser o Salvador dos pecadores e o único lugar que Ele se dignou a ocupar para você é que Ele deve salvá-lo e salvá-lo completamente. Alguns dizem: "Sim, oh sim. Jesus será o meu Salvador e fará alguma coisa para a minha salvação."

Mas Ele replica: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim." Cristo nos salvará do começo ao fim ou Ele não terá nada a ver com a nossa salvação! Ele terá toda a glória do trabalho e o próprio trabalho deve ser toda a Sua glória, desde o fundamento até a cobertura. Jesus nunca consentirá ser um quebra-galho para nossas deficiências. Ele não virá atender nossa chamada para ser o nosso lacaio, para consertar os nossos velhos trapos e consertar nossos sapatos remendados. Não! O Senhor Jesus Cristo deve ser tudo e temos de ser nada, ou nunca estaremos em acordo.

É perigoso até o último grau estar empurrando o Senhor da Glória para um canto para que possamos ocupar seu Trono. O Senhor nosso Deus é um Deus zeloso e Ele é especialmente zeloso das prerrogativas do Seu Filho! Se somos tão vaidosos a ponto de roubar a Cristo de Sua glória, vamos incorrer rapidamente em Sua ira. Quando o nosso coração sente que o sangue e a justiça de Jesus constituem o seu único fundamento, então estamos andando correta e humildemente com Deus e está tudo bem.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 25/10/2014
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