Oração a Deus em Angústia - um Sacrifício Aceitável

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás." (Salmo 50.15)

O Senhor Deus neste Salmo é descrito como tendo uma controvérsia com o Seu povo. Ele convoca o céu e a terra para ouvi-lo enquanto pronuncia sua reprovação. Somos informados mais claramente que o Senhor não tinha qualquer controvérsia com o Seu povo sobre o exterior da sua adoração. Ele não os reprovou por seus sacrifícios e holocaustos. Ele mesmo fala destes sacrifícios simbólicos e diz, "De tua casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus apriscos." (v.9). Sua queixa não foi a respeito de cerimônias e rituais visíveis e isso mostra que Ele não dá tanta importância às coisas exteriores, como a maioria dos homens supõe.

Sua reclamação foi a respeito de adoração interior, da adoração da alma, do culto espiritual! Sua reprovação era de que o Seu povo não oferecia ação de graças e oração e que o seu comportamento era tão incoerente com suas profissões que, claramente, seus corações não acompanhavam suas formalidades exteriores. Esta foi a essência da acusação contra eles. Não tinham a verdadeira comunhão com Deus, e mantinham apenas a aparência dela. Vemos, então, que o culto de coração é a coisa mais preciosa aos olhos do Senhor.

Também não é difícil ver por que é assim, pois é claro que se um homem tivesse mantido o ritual da antiga Lei até o máximo, ele ainda poderia não ser, com sinceridade, um adorador de Deus afinal. Ele poderia conduzir rebanhos inteiros de suas ovelhas para a porta do templo para o sacrifício e ainda assim poderia não sentir qualquer reverência espiritual em relação ao Altíssimo. Provou-se vezes sem conta que o maior cuidado e zelo para com cerimônias externas é bastante consistente com a ausência absoluta de qualquer verdadeira compreensão de Deus e do amor sincero por Ele. O hábito pode manter um homem exteriormente religioso enquanto sua mente se esqueceu do Senhor! Sim, a consciente falta de graça interna e vital pode levar um homem a um zelo mais intenso em formalidades, a fim de esconder o seu defeito.

Está escrito: "Israel abandonou o seu Criador e construiu templos." Você acha que se ele constrói templos ele deve reconhecer o seu Deus, mas não foi assim. Dentro desses edifícios, ele se escondeu dAquele que não habita em templos feitos por mãos. Sob as dobras das vestes, os homens sufocam seus corações para que não venham a Deus. Belas música afogam o grito da alma contrita e a fumaça de incenso torna-se uma nuvem que esconde a face do Altíssimo! Grandes sacrifícios podem muitas vezes ser uma oferta feita para alimentar o orgulho pessoal de um homem rico. Sem dúvida, alguns reis que deram grandes contribuições para a casa de Deus fizeram isso para mostrar a sua riqueza ou para mostrar sua generosidade, um pouco no espírito de Jeú, que disse a Jonadabe, filho de Recabe, "Venha comigo e veja o meu zelo para com o Senhor."

Um grande sacrifício pode ser nada mais do que uma oferta para a popularidade e por isso é uma oferta ao egoísmo e vaidade. Com tais sacrifícios, Deus não poderia estar satisfeito. Ai, como é fácil contaminar a adoração de Deus e anular a sua qualidade até que, como o leite que fica azedado, pode ser totalmente rejeitada.

Antes de proclamar as palavras do nosso texto, o Senhor disse no verso anterior o seguinte: "Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo;”, porque havia perdido de Seu povo, em primeiro lugar, a sua gratidão. E em seguida, perdeu neles aquela confiança santa que iria levá-los a recorrer a Ele na hora da necessidade, e portanto, lhes diz: "Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei, e tu me glorificarás ". Irmãos e irmãs, vocês têm falhado nessas duas coisas preciosas? Você falha em agradecimento? O Senhor multiplica os Seus favores para muitos de nós - devemos multiplicar nossos agradecimentos? A terra devolve uma flor para cada gota de orvalho - devemos nós, da mesma forma, responder à misericórdia abundante? Será que as bênçãos da Sua Providência e os favores de Sua Graça nos ensinam a cantar salmos para o sempre Misericordioso?

Será que não é muito frequente permitirmos que as misericórdias divinas venham a nós sem serem dignas de uma palavra de gratidão? Dedicamos um tempo para o louvor de Deus? Vocês, meus irmãos e irmãs, dão graças em tudo? Eu também posso me aventurar a perguntar se você paga seus votos a Ele? Em tempos de doença e tristeza você diz, "Gracioso Senhor, se eu for recuperado, ou se eu for livrado dessa condição, eu vou ser mais crente, eu serei mais consagrado. Vou me dedicar somente a Ti, ó meu Salvador, se agora me restaurares."

Você está atento a estes votos? É uma questão delicada, mas eu a coloco claramente, porque o voto não resgatado é uma ferida no coração. Se você falhou em seus agradecimentos, lembre-se que estas são as coisas para as quais Deus olha mais do que qualquer observância cerimonial ou serviço religioso. Ele quer que você traga sua gratidão diária e seja fiel a seus votos a Ele, pois é digno de ser louvado e isto é conhecido a Ele pelo cumprimento do voto.

Deixe-me dizer que Deus deve considerar isto como sendo uma das formas mais aceitáveis de adoração, a saber, que devemos invocá-lo no dia da angústia! Ele nos diz que o nosso apelo por sua ajuda na hora da angústia será mais aceitável para Ele do que as oblações que sua própria Lei ordenou, mais agradável do que todos os bois e bodes que príncipes poderiam apresentar em Seus altares!

São nossos gritos de angústia e nossos apelos de esperança aceitáveis a Deus? Então vamos clamar fortemente a Ele! Alguns de vocês estão em águas turbulentas? Invocai-o! Você está no deserto com fome? Invocai-o! Você está em covas de leões e entre as montanhas dos leopardos? Invocai-o! Se você está em perigo, assim como sua alma ou seu corpo, não hesite em orar de uma vez, mas diga para si mesmo: "Por que eu deveria desistir? Deixe-me dizer ao Senhor da minha tristeza rapidamente, pois se Ele conta o meu apelo como um sacrifício digno, com certeza eu vou apresentá-lo com todo o meu coração!"

Que o Espírito Santo, o Consolador, nos permita clamar a Deus no dia da angústia porque isto traz glória a Ele. Peço que você observe o tempo que é especialmente mencionado. Invocar a Deus em qualquer tempo honra a Ele, mas invocá-lo no dia da angústia tem uma marcação especial que é peculiarmente agradável ao Senhor, porque isto produz Glória peculiar ao Seu nome. Observe, então, em primeiro lugar, que quando um homem clama a Deus, sinceramente, no dia da angústia, isto é um reconhecimento verdadeiro de Deus.

Devoções exteriores supõe um Deus, mas a oração no dia da angústia prova que Deus é um fato para o suplicante. O suplicante aflito não tem dúvida de que há um Deus, porque está recorrendo a Ele quando a mera formalidade pode produzir nenhum conforto. Deus não é um mero nome ou uma superstição para ele, pois tem certeza de que há um Deus, porque está clamando a Ele numa hora quando uma farsa seria uma tragédia e uma impostura seria uma zombaria amarga. O suplicante aflito percebe que Deus está perto dele. Tem uma percepção da onipotência de Deus, pela qual Ele pode ajudar, e da bondade de Deus, que o levará a ajudar.

Observe a seguir, que a promessa é pessoal. "Eu te livrarei." Não é dito: "Meus anjos devem fazê-lo", mas o Senhor Deus se compromete a resgatar Seu povo. "Eu serei um muro de fogo ao redor deles." Então, também, é pessoal ao seu objeto pois o próprio homem que clama a Deus em apuros deverá ser um participante da bênção! "Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei". É pessoal, pessoal para você! Portanto, caro amigo, acredite nesta promessa pessoal do seu Deus!

Lembre-se, também, que é permanente. Você pediu esta promessa, alguns de vocês, há 50 anos, é tão certo hoje como era então. A promessa de Deus que foi feita há 2.000 anos atrás é tão válida como se tivesse sido proferida este dia.

Por último, se você confiar no seu Deus em sua aflição será livrado, e o Senhor será glorificado na sua conduta. Quando um homem ora a Deus nas horas de angústia e recebe livramento, assim como ele tem a certeza de obtê-lo, então ele honra seu grande Ajudador ao contemplar a maneira em que a promessa foi cumprida, adorando e bendizendo o Senhor amoroso por tal interposição graciosa.

Em seguida, você irá honrá-lo pela gratidão do seu coração no qual a memória de Sua bondade estará sempre gravada. Esta gratidão devota de vocês vai levá-los, no devido tempo, a darem testemunho da Sua fidelidade. Outros ficarão impressionados quando contar a história daquilo que o Senhor tem feito por sua alma.

Ao mesmo tempo, você, pessoalmente, vai crescer na fé pela experiência do amor e do poder de seu Pai celestial. E nos próximos dias você vai glorificá-lo pelo aumento da paciência e confiança. Você vai dizer: "Ele esteve comigo em seis angústias e Ele vai estar comigo na sétima. Tenho provado, meu Deus, e eu não me atrevo a duvidar dele." Sua serenidade de espírito será mais profunda e duradoura, e você será capaz de desafiar o poder de Satanás ao tentar roubar a sua alegria em Deus.

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 12/08/2015
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