MILAGRES EXISTEM...

Obs: Escrevi essa mensagem em referência ao poema "A criança que não fui"

“A criança que eu não fui” relata o sentimento de alguém que não pôde viver a sua infância, no momento certo, vindo a vivê-la tardiamente, de outra forma. Este poema esteve “engasgado” na minha garganta por muito tempo. Tentei dar-lhe vida, mas não encontrava as palavras certas. Não queria que ficasse um lamento, desses que a gente lê e chora, nem que fosse alvo de dó ou piedade. Mas ontem, eu entrei no link de postagem e o fiz direto, sem rascunho e sem muito pestanejar. Saiu. Foi mais um parto. Acredito que bem sucedido.

Explicando sucintamente: na infância fui acometida por uma doença, que eu acredito seja a que hoje chamam de fogo selvagem. Naquela época não havia recursos, nem hospital especializado, nada. Eu tinha feridas pelo corpo todo, com exceção da planta dos pés e das mãos. Tive que raspar a cabeça, porque "aquilo" coçava muito. Meus irmãos e minha mãe se revezavam dia e noite para segurar minhas mãos e pés, para que eu não coçasse ou me debatesse.

Tudo foi tentado do ponto de vista da medicina e nada. Fui desenganada pelos médicos e sarei em uma semana, graças à fé que minha mãe tem em Nossa Senhora Aparecida. A Santa apareceu para ela em um sonho (ou uma visão, ela não sabe explicar direito) e pediu que fizesse uma promessa. Promessa feita e a cura veio em seguida, como por milagre.

Lembro-me vagamente de algumas coisas, como nos momentos de maior dor, quando minha mãe me dava banhos de imersão com ervas que a crendice popular conferia serem “tiro e queda” para aquele mal. Lembro-me da dor e do cheiro, inconfundível e forte.

Não tive fotografias da minha infância (como iam registrar "aquilo"?) e a foto que tenho mais nova é uma dessas de escola, com oito para nove anos de idade.

Quanto ao “Papai do Céu” ter me mandado para cá com “esse roteiro e esse itinerário”, fiz referência ao Salmo 138:16 “cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes que um só deles existisse” (lindo!!!)

Vivi tardiamente as minhas fases, mas vivi. Ainda hoje me dou ao direito de fazer algumas criancices. Porque não?

Resta explicar alguns papéis a que me impus, nesse grande teatro que é a vida: Coadjuvante, porque fui a última gestação de minha mãe (o oitavo parto) e porque nasci mulher. Na visão machista do meu pai (própria dos homens daquela época), os atores principais desse enredo eram os filhos homens. Estreante, porque estava vindo ao mundo “por último”, com um papel desconhecido, sem conhecer o elenco e ainda por cima sendo recebida de forma preconceituosa. Hoje, narrando essa história, percebo que vim a esse mundo com o melhor papel. E ainda contando com a “minha santinha” no elenco!

Entre ter infância e ter a vida, fiquei com a vida!

Devo aqui e por toda a vida, alguns agradecimentos: aos meus irmãos mais velhos, que ajudaram minha mãe a cuidar de mim; aos meus pais, por tudo terem feito buscando a minha cura; a minha "vó" Ana (que não conheci), mas que educou minha mãe na fé cristã; a minha mãe (biológica), pela sua fé e dedicação e por tanta coisa que aqui não caberia dizer e finalmente à minha mãe (espiritual) da qual já me tornei íntima e chamo carinhosamente de "Cidinha" (Nossa Senhora Aparecida) por interceder por mim junto ao Pai!

A criança que eu não fui, eu fui sim, mais tardiamente. E acredito que ainda sou, pois que cometo, vez por outra, alguma peraltice.