A dor pela falta do adeus

Um nó se fez imenso em minha garganta e dedos, lágrimas e uma dor em meu peito, cenas impossíveis de não se condoer.

Um sair sem retorno, uma partida sem adeus, uma morte sem aviso... Sem sorte.

No chão a mãe chora -já não sente mais seus pés no chão- a dor imensa ao saber da perda, não de um, mas de dois filhos.

Que dor imensa!

Olhava eu para minha pequena ao meu lado e ao lado do meu marido, ali, inocente, protegida, aos nossos olhos e não tive como não imaginar-me e colocar-me no lugar desta mãe ali, desolada, largada, abandonada e entregue ao desespero e ao pranto.

Fico tentando imaginar o que lhe passava pela mente naquele instante, talvez se indagasse quanto a existência de Deus, que Deus é este que lhe tira o coração, pois ter filhos é ter o coração para o lado de fora (recebi isto certa vez), que lhe deixa sem ação para levar a vida adiante?

Ontem senti mais uma vez o poder deste amor, o amor materno, o amor fraternal, aquele que não se atreve a limitar-se apenas a um pequeno grupo tradicionalista familiar, mas ao amor fraternal e maternal que abraça o mundo.

Naquele momento ali, inerte, chorosa, emocionada, comovida, senti-me como se minha família estivesse passando por aquele acontecimento inominável, senti-me humana, mais do que já me senti em cada dia que passei de minha vida até ontem.

E hoje, graças a Deus, vi que não somente eu, mas muitos cidadãos sentiram-se como eu, atônitos e perplexos pelo fato, condoídos e sofrendo, pegando para sí um pouquinho da dor que cada conhecido ou parente das vítimas estejam sentindo.

A dor maior talvez esteja na revolta por tantos avisos acerca do caos aéreo no Brasil, talvez seja pela falta de sorte ou pelo ganho do azar, mas penso que a dor maior esteja na falta do adeus, aquele adeus que foi deixado para trás, aquele abraço que poderia (e seria) o último, que não foi dado por algum motivo alheio a compreensão humana, a dor maior pela falta de um adeus que não se pode dar mais, o olhar deixado para sempre em fotografias e vídeos, o último adeus gravado na memória e no coração.

O que posso fazer em meio a tamanha dor?

Oro pedindo a Deus e a todos os espíritos superiores e iluminados que resgatem e levem essas almas para a luz, que aceitem esta passagem serenamente desligando-se das vestes carnais, peço e rogo para que não haja mais sofrimento e que para as pessoas que estão com vida, que seus corações sejam confortados e acarinhados pela Mão Divina.

Que assim seja...

Graças a Deus.

HM Estork CCoelho
Enviado por HM Estork CCoelho em 18/07/2007
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