Um Alerta para ser Levado a Sério

O livro do profeta Amós foi escrito na metade do século oitavo, com o objetivo de revelar a severidade do julgamento divino por causa da infidelidade de Israel e declarar a esperança de grande restauração depois do julgamento que estava se aproximando[1]. O capítulo 3 começa dizendo: “Ouvi a palavra que o SENHOR fala contra vós outros, filhos de Israel, contra toda a família que ele fez subir da terra do Egito, dizendo: De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi”. Aqui o povo de Israel é conduzido a se lembrar da sua Eleição e da sua Redenção. É importante lembrar que esses eventos – o chamado de Abraão e a libertação do Egito – já haviam acontecido há séculos, mas o Senhor aplica isso àquele povo que vivia na época de Amós. Isso porque eles se identificavam etnicamente com a nação que foi libertada do Egito. Embora fossem apenas descendentes, era o mesmo povo.

Da mesma forma, em Cristo Jesus, nós os gentios crentes somos enxertados nesse Israel. Nós nos tornamos um só povo com os crentes do Antigo Testamento. Como disse o Apóstolo Paulo: “se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl 3.29). Portanto, não são apenas “eles” que foram retirados do Egito, mas nós. Nós, os que cremos em Cristo, que fomos acrescentados ao Povo e Família de Deus, fazemos parte daquela família que Ele fez subir do Egito. Segue-se que, em certo sentido, essas palavras são para e CONTRA nós.

Amós alerta Israel de que o fato dele ser o povo eleito não iria livrá-lo da punição de seus pecados. Isso nos traz duas lições importantes: primeiro, estar dentro da igreja visível não significa que nós somos salvos. Assim como muitos judeus seriam mortos e iriam para o inferno mesmo sendo judeus, muitos de nós vamos morrer e ir para o inferno mesmo tendo sido batizados, criados e sepultados na igreja. Segundo, mesmo aqueles que são verdadeiramente salvos e vão para o céu, podem sofrer nesse mundo algum castigo pelos seus pecados. A disciplina é justamente a prova de que somos eleitos, de que Deus está cuidando para que não nos desviemos.

Para estimular o povo de Israel ao arrependimento, Amós faz uma série de perguntas retóricas. Em Am 3.3 ele pergunta: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?”. Se a nossa vontade não for a vontade de Deus, se nossos objetivos não forem os objetivos de Deus, nós não poderemos segui-lo, não poderemos andar com Ele; e, consequentemente, não podemos ter a vida eterna, pois Nele está a vida. Então ele pergunta se o leão ruge se não tiver uma presa, ou se o leãozinho levanta sua voz se não tiver apanhado nada. Segundo o versículo 8, esse rugido é a revelação do Senhor de que o juízo estava próximo. Amós não foi levantado a toa, o povo de Israel tinha poucos anos para se voltar ao caminho do Senhor. Israel era como um passarinho que caiu numa armadilha. Era uma questão de tempo até ser levado cativo. Isso não era apenas um aviso de Deus, mas Ele mesmo quem faria a desgraça vir: “Sucederá algum mal à cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?” (Am 3.6).

No capítulo 4, Amós chama os nobres de Samaria (a capital de Israel do Norte) de vacas de Basã. Basã está localizado na parte mais ao norte de Israel, a leste do rio[2]. Como era uma terra bastante fértil, produzia animais gordos e fortes, de modo que isso provavelmente era um símbolo de luxo e poder[3], construído através da opressão dos mais pobres. O versículo 1 diz que essa vacas bebiam com o seu "laadoneihem", que a ARA traduz como “marido”, enquanto uma tradução literal seria “senhor”. Se o senhor aqui for de fato o marido, as vacas de Basã seriam as mulheres nobres que viviam confortavelmente do que era tomado do povo, por seus maridos ou por elas próprias. Mas outra possibilidade seria que esse senhor fosse o rei de Israel. E nem importa tanto saber quem exatamente era esse rei, porque em praticamente toda a história de Israel do Norte ele foi regido por idólatras. De qualquer maneira, estava condenando a injustiça da nobreza de Israel. Por isso estava chegando o tempo em que o Senhor não mandaria mais avisos, mas enviaria o juízo derradeiro. Sua conclusão é: “prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus” (Am 4.12).

Em Amós 5.2 o profeta levanta uma lamentação, provavelmente em forma de canção, sobre Israel. Era uma palavra de tristeza pela queda do reino, como se ela já tivesse acontecido. Ele afirma que nunca mais aquela nação iria se levantar novamente, o que de fato aconteceu: as tribos hebraicas que formavam Israel do Norte foram espalhadas e essa nação nunca mais voltou a existir. Apenas Judá prosseguiu. Esses três capítulos de Amós (3, 4 e 5) começam da mesma forma: “ouvi esta palavra”. Esse alerta permanece para nós hoje. Precisamos dar ouvidos à mensagem de Amós, pois Deus continua dizendo: “Buscai-me e vivei” (5.4). O Senhor é santo, Ele não pode tolerar o mal. Se Ele não poupou “a virgem de Israel”, a antiga nação eleita, não devemos pensar que Ele nos poupará também se nós, dizendo-nos Seus servos, não andarmos conforme Ele nos ordena.

Não apenas nosso comportamento deve ser cuidadosamente examinado, mas também o que pensamos, sentimos, desejamos ou planejamos, “porque é Ele quem forma os montes, e cria o vento, e declara ao homem qual é o seu pensamento” (4.13). Não podemos fugir de Seu olhar perscrutador. Nossos atos estão sendo contados, avaliados e julgados por aquele que é infinitamente santo.

Nossa idolatria não consiste apenas naquela evidente que Israel cometia, de ir até Betel e Gilgal adorar aos falsos deuses (5.5), mas em ter qualquer coisa como mais preciosa para nós que o Senhor. Ao invés de buscarmos a felicidade nas coisas criadas, devemos buscá-la naquele que fez as estrelas e movimenta o Sol, para criar o dia e a noite todo o tempo. Ele é imensamente poderoso para nos abençoar, mas terrivelmente imbatível quando quer nos punir. Não temos onde escapar da Sua ira, nem onde nos esconder do Seu furor. Isso deve destruir toda nossa arrogância, pois Ele “faz vir súbita destruição sobre o forte e ruína contra a fortaleza” (5.9).

[1] CARDOSO, Dario de Araújo. Crise e Solução. Revista Expressão, N° 66, 2° Trimestre de 2017. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.

[2] SMITH, Billy. Amos, Obadiah, Jonah.

[3] THOROGOOD, Bernard. A Guide to the Book of Amos: With Theme Discussions on Judgment, Social Justice, Priest and Prophet. Valley Forge: Judson Press, 1977.