O RESGATE DO UMBRAL

Pelo Espirito: Abiner.

O irmão que agora vagava na espiritualidade sem onde sequer poderia gozar de alguns minutos de paz,além de sentir-se solitário por entre as companhias que desde o corpo há muito já nivelara-se ao degrau democrático da morte,se via desalentado e em amargurados pensamentos.Mas bem sabia o que fora na terra,avarento,preconceituoso,imediatista,vingativo,soberbo no poder financeiro que nunca dirigira um pão sequer ao faminto...

Transpôs o portal para a espiritualidade,embora enraizado no plano físico que recebia as ressonâncias dos seus tresloucados e tão fugaz momentos que desperdiçara!

Naquele lugar onde o choro e os ranger de dentes eram tão seus e emitidos de um mesmo eco,ali ele sem saber vagava noite e dias,já ha bem mais de dez anos,afirmava-se perdido para sempre,naquele que ele mesmo sem receio dizia ser o inferno destinado às almas, que intimamente conscientes sabiam o que lhes aguardava um dia...

Contudo mesmo ali,fez o que na carne raras vezes fizera,buscou na prece o amparo,a luz a intervenção,o que antes ele fazia em intenção aos seus bem passageiros,agora direcionava-se à sua situação condenada,pois tinha consigo " nada tenho a perder,ainda penso,sinto,e sei que estou vivo,rogarei a Deus..."

Demorada prece fez o nosso irmão,olhos fechados,mãos ao peito,pela dor do infarto que o transportou ao desencarne somado as atitudes desumanas.Então aos poucos ouviu direcionando-se à sua presença passos leves e pausados e depois destes longos e "eternos" dez anos ouviu pela primeira vez palavras meigas e carinhosas a lhe dizer: - Meu amigo e meu irmão,abra os olhos,vim para te atender as súplicas para tua paz,venho como emissário que tem se esforçado para trabalhar junto às equipes de socorros aos falidos moralmente.O pobre espírito sofredor sentindo toda a doçura, com vergonha ainda não tinha coragem de abrir os olhos e continuou o benfeitor:

- Disse-nos Jesus,"das ovelhas que o Pai me confiou,nenhuma se perderá!" pode meu irmão abrir os olhos e com eles todo o teu ser,pois chegastes o teu momento de paz.A distancia que lázaro do seio de Abraão ao rico soberbo,é justamente o padrão vibratório em que vos mantinha preso à imundície que criastes nas fachas imorais da terra...

Abri então os sentidos em geral o sofredor e se vê num belo jardim onde tudo em beleza ele não podia avaliar...

Olha para o irmão abençoado que lhe transportara até tal sublimidade de lugar e lhe agradece transbordando as lágrimas mais sinceras. Percebeu então que era o seu empregado mais humilde,um velhinho que ele explorou com serviços árduos quando na terra,em torca de comida e um singelo cômodo,para que este lhe pagasse em trabalhos,que o mesmo não recusou,até mesmo alegrara-se com a oportunidade de se ver protegido das brutalidades dos tempos bruscos.

Eles entre olharam-se e um buscando no interior do outro os caminhos felizes e tristes que passaram.

O emissário do bem lhe mostra toda extensão do local,as flores,os pássaros toda a vida em abundância, pessoas conhecidas como desconhecidas,palestraram perdendo-se nas horas,até que mostrando ao recém chegado as moradas onde muitos habitavam apontou-lhe uma choupana e lhe perguntou: - Você pode me dizer de quem é aquela casinha?

Envergonhado,com a voz embargada,quase sem querer responder,mas fala: - Meu amigo...eu sei que é minha...por tudo que fiz visando somente o melhor sem medir os prejuízos que provocava nos outros,é justo que me seja esta a irmã que me abrigará,não posso me queixar.

De cabeça baixa olhando fixamente o chão,conclui:

- Tanto tempo desfraldando a Lei Divina no corpo e recebendo fora dele a solidão naquele lugar semelhante ao inferno,esta choupana será para mim a minha mansão de glória.Muito obrigado meu amigo,mas me diga,aquela linda casa lá em cima naquela bela colina tão esverdeada e cercada por árvores magníficas que sinto o perfume daqui,é uma morada, que podemos afirmar ser celestial,pode me dizer quem mora lá?

Responde o abnegado amigo espiritual,colocando a mão fraterna num dos seus ombros:

- Meu irmão,ali estão muitos que a deslealdade,a crueldade o desamor dos que são vencedores na terra,aniquilaram pela exploração.Ali trabalham sem cessar os aparentes simplórios,perdedores para muitos no corpo,vão eles em caravanas às regiões mais remotas das tristezas buscar os que se redirecionam ao caminho do bem,foi de lá meu irmão que recebi a incumbência para ir em seu amparo!

Mais uma vez a dor assaltou o desventuroso irmão que estupefato e envergonhado fala:

- Meu irmão mais venturoso que eu...então que sou frente toda esta realidade?Que será de mim?Oh...que grande vergonha!

O ditoso irmão benigno pede-lhe calma,pois tudo agora tomaria outro curso e que a misericórdia de Deus-Pai nunca abandona ninguém! Abraçam-se demoradamente naquela benção de um entardecer sem que nós da terra possamos avaliar e arremata o ancião fitando o irmão de sempre dizendo-lhe em júbilo:

- Agora vamos meu irmão,logo a tarefa para mim recomeçará em busca de tantos outros,venha vamos para casa!

Sem graça e com receio de alertar o amigo sobre as moradas diferentes,apenas fala:

- Não posso meu bom amigo,você vive junto aos venturosos não tenho nem vibração igual para me aproximar de tal lugar,alegro-me por ter a minha casinha de palha,que maravilha para mim! Pode ir meu amigo e sim por que não irmão,só nunca esqueças de me visitar e me ministrar tão belos ensinamentos!

Afavelmente e alegre o benfeitor sorri e dá mais uma amorosa lição de amparo:

- Querido irmão,de fato a faixa vibratória que você possui ainda não te dá condições de chegar onde eu vivia,mas pedi em rogativa por sua evolução para abraçar-vos no meu sentimento fraterno,vamos,vamos logo,pois se me permitir serei vosso hóspede durante um bom tempo!

O sofredor de antes,lançado por si mesmo às regiões soturnas e lúgubres entrega-se desmesuradamente ao pranto por sentir que o amor,a fraternidade a abnegação nunca deveriam ser postos na mesma balança e junto ao irmão desprezado de outrora adentram na luz balsamizadora da forma externa de muitas das muitas moradas nos dois planos.

Muita paz!