Dia 131 – Mateus 05 – 07. O sermão do monte.

07 de Maio de 2019

Como é bom respirar os novos ares da nova aliança, não faço aqui juízo de valor em relação aos livros que nos falar acerca da antiga, seu valor para nós é inestimável, mas, seu função é apontar e nos guiar ao momento em que chegamos; se os noivos se divertem com os preparativos de seu casamento, escolhendo as cores e os detalhes; quanto mais se alegrarão com a chegada do grande dia; pois bem, nosso dai chegou! Falemos hoje sobre uma das primeiras palavra de Jesus, o Sermão do Monte.

Cada verso desses capítulos merece um comentário próprio, no entanto no momento não teremos essa oportunidade, guardemos isso para projetos futuros; por hora cabe a nós o comentar sobre alguns deles, os que nos chamaram mais atenção em um primeiro momento.

Bem aventurados significa felizes, Jesus fala aqui uma série de motivos para que os homens se alegrem, e o primeiro deles é ser “pobre de espírito” (Mt 5.3), mas o que isso viria a ser? Confesso que muito já ouvi acerca desse trecho da Bíblia, mas não cheguei a um denominador comum, deixo aqui o registro para lembrar-me de me debruçar sobre esse texto e talvez no futuro chegar a uma conclusão sólida em seu respeito.

Seguimos lendo algo bem contraditório; somos felizes quando somos perseguidos por amor de Cristo (vs 11), que tipo de ensino é esse? Como pode a perseguição nos trazer felicidade? Jesus nos mostra aqui que esse é um dos indicativos que estamos no caminho certo, uma vez que assim os profetas foram perseguidos no passado (vs 12).

O mundo não tolera a santidade, se formos amigos de Deus seremos inimigos do mundo e assim seremos perseguidos, embora possamos perder as “benéfices” dessa vida, não podemos nos entristecer, porque “é grande o ‘nosso’ galardão nos céus” (vs 12)

Jesus compara os seus discípulos, a quem o discurso é dirigido, ao sal da terra e a luz do mundo; tanto o sal quanto a luz têm funções importantes; foquemos no sal, que como o nome diz, serve para salgar; no contexto da época, além de atribuir sabor aos alimentos, conservava-os. Mas e se o sal se tornar insípido? Essa situação aponta para os discípulos (que são o alvo do discurso), o que aconteceria se os discípulos se tornassem insípidos, ou seja, se deixassem de influenciar o mundo? (Mt 5.13)

O sal tem o sabor forte e bem marcado, nada permanece o mesmo após ter contato com o Sal, mas se esse sal não tem sabor, para nada presta, a não ser para ser pisado pelos homens.

Ao olhar o texto em grego, podemos encontrar algumas coisas interessantes nesse verso, vemos a palavra βληθὲν – blethén, que significa “jogar”, o detalhe é que a palavra se encontra no aoristo do passado, um tempo verbal que não temos no português, esse tempo nos apresenta uma ação completa que ocorreu, ou seja, o sal que não salga já foi jogado fora, o foco do verso não está em o jogar fora, essa é uma ação já concluída.

No entanto, também encontramos a palavra καταπατεῖσθαι – katapateĩsthai, que traduzimos como “ser pisado”, o detalhe interessante está aqui, o verbo aqui conjugado nos trás uma ideia de ação contínua no presente, algo que está acontecendo, o sal continua sendo pisado.

O foco desse texto está aqui, caso os discípulos percam o sabor, percam sua marca indeléveis, continuarão a ser pisados pelo mundo. O povo já estava sob o domínio de Roma e é provável que tenham que tenham feito relação com esse fato. Mas o ser pisado aqui não deve ser ligado a uma dominação política, mas sim espiritual. Se os discípulos perderem o sabor, o mundo dos homens continuará os esmagando com suas doutrinas errôneas.

Proponho, a fim de explicar, a seguinte tradução:

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora depois de ser jogado fora, e ser pisado pelos homens continuar a ser pisado pelos homens. (Mt 5.13)

Muitos pensavam que a doutrina de Jesus era nova, que ele viria abolir a lei, mas ele deixou bem claro que esse não era seu objetivo, Cristo não veio abolir a lei, antes veio cumpri-la (vs 17), Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Jesus veio para ser o sacrifício final, toda a lei apontava para Cristo, toda lei esperava por esse momento.

Jesus nos ensina que se não tivermos comunhão com nosso irmão, não podemos ter com Deus, em caso de desavenças precisamos nos reconciliar primeiro antes de adorá-lo (vs 25). Muitos enxergam aqui um indicativo do purgatório, mas o texto aqui fala do relacionamento entre pessoas, e não entre o homem e Deus. Ainda, tal doutrina não encontra respaldo no resto do novo testamento, após a morte nosso destino está selado, e só há duas opções; passar a eternidade com Cristo ou longe dele.

A mensagem de Cristo vem quebrando muitos paradigmas, Jesus nos mostra que somos pecadores; no verso 28 lemos que o adultério não acontece ao se consumar o ato, mas sim ao olharmos uma mulher com intenções impuras. O pecado não acontece no ato, mas sim muito antes, ele nasce em nosso coração e ali já somos muitas vezes condenados.

Entramos agora em um assunto complicado, o Divórcio, lemos que aquele que se divorcia de sua mulher a faz adúltera, e quem se casa com uma divorciada também torna-se adúltero, exceto em uma circunstancia, há apenas uma causa que permite um divórcio na Bíblia; algumas Bíblias traduzem como fornicação, outras como adultério, mas a palavra encontrada no grego é πορνείας – pornéias.

Esse vocábulo significa promiscuidade sexual, mas não podemos o traduzir como adultério, uma vez que existe uma palavra específica para isso, no texto encontramos a palavra μοιχᾶται – moikatai, que é uma conjugação do verbo adulterar em grego. Logo, vemos que existem palavras diferentes para adultério e promiscuidade sexual; fica então a pergunta, qual a promiscuidade sexual que se pode cometer após o casamento e que não seja o adultério?

Para essa resposta precisamos voltar ao comentário de dia de ontem e entender que o divórcio não era exclusivo do casamento, mas também poderia ser feito durante o noivado. É disso que Jesus fala. No noivado não se pode adulterar, uma vez que não se está casado, mas era possível a fornicação, para esses casos o divórcio era permitido.

Conclui-se então que após o casamento a Bíblia não nos dá margem par ao divórcio; podemos o fazer? Muitas vezes o fazemos, em especial quando vemos casos de violência doméstica, mas precisamos compreender que essa não é a vontade de Deus; os casamentos foram feitos para serem sem fim, igual a nossa aliança com Deus.

Jesus voltará a esse assunto no capítulo 19 e lá observaremos a presença de ambas as palavras para fornicação e adultério (πορνεία & μοιχάω). Confesso que é um ensinamento duro, os apóstolos pensaram o mesmo, por isso ao ouvirem a explicação de Jesus disseram: “[…] se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.”( Mt 19:10)

Um verso que trás muita confusão também é o 37º do capítulo 5º. “Sim, sim; não, não”, Jesus não está falando aqui que não podemos mudar de opinião, e nem condenando o uso da palavra “talvez”, mas antes combate a mentira. Nossa palavra deve ser apenas uma, nosso Sim deve ser um Sim, de forma que não precisamos de juramentos para que nos creiam, um crente no Senhor não precisa jurar para que lhe atribuam a verdade, basta para isso ser sincero; um Sim é um sim, não existe essa de “cruzar os dedos”.

Lembro-me agora dos Anabatistas, um grupo que no passado existiu e quase foi dizimado, eles tentavam cumprir esse sermão na íntegra, mas como entendemos o verso 39? Como dar a outra face?. Não existe receita mágica aqui, não há “malabarismos exegético” que nos livre dessa verdade, se queremos servir a Deus esse é nosso caminho, devemos dar a outra face, precisamos ser perfeitos, como Deus é (vs 48)

Se assim não formos, para que estamos no evangelho? Nessa mesma ideia vem a ideia do perdão (Mt 6.15), ele não é seletivo e nem condicional, devemos antes perdoar a todos e em todas as situações, se assim não fazemos, não seremos por Deus perdoados. Se alguém tem alguma dificuldade em cumprir esse texto, deve procurar em Deus auxílio, mas não podemos ignorar as verdade aqui expostas.

Nossa vida deve ser exemplo, precisamos nos esforçar para sermos perfeito como Deus, mas embora devamos ser exemplos, não devemos querer aparecer, precisamos andar em secreto em nossas devocionais e em nosso serviço (vs16). O verso 16 nos fala sobre o Jejum, nos mostra como ele deve ser praticado, em oculto. O fato de Jesus mencionar isso já acaba com a doutrina que tal ato é uma prática do antigo testamento. O jejum é ainda para os nossos dias, e mais a frente voltaremos a falar sobre ele.

Embora as palavras desse discurso pareçam duras, elas nos ajudam a discernir se estamos prontos ou não, “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”(Mt 6.21), se estamos dispostos a seguir a Cristo de verdade, ai estará o nosso coração e nosso tesouro. Talvez seu tesouro esteja em outro lugar e não em Cristo, se assim o for, ai está o seu coração, ai está a sua posição e ai está o seu destino. Cabe a você decidir se deseja mudar essa situação.

Dizem que os olhos são as janelas da alma, pelo olhar sabemos como alguém está, mas por essas janelas também podem entrar imagens; Jesus nos afirma que nossos olhos são a lâmpada do nosso corpo; dessa forma se olhamos coisas boas nosso corpo terá luz, mas, se nossos olhos buscam o que é errado, nosso corpo anda em trevas (Mt 6.22-23); fica então a questão: Como anda a iluminação do nosso corpo?

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Que coisas? Muitos ao lerem esse texto esquecem de um detalhe visível até no português (e presente no grego pela palavra ταῦτα – tauta, “estas”), Jesus fala que todas “estas” coisas seriam acrescentadas, ou seja, faz aqui menção aos versos anteriores, onde ele fala sobre aliamento e vestuário. Jesus não promete riquezas e nem luxos, antes diz que devemos buscar a Deus, a promessa que temos aqui é do básico, sem luxos ou adicionais.

Chegamos ao último capítulo de nossa leitura hoje. E começamos pelo verso 1, onde lemos sobre não julgar para não sermos julgados, mas tal verso contrasta com o 16 que afirma que devemos conhecer a árvore pelos frutos, como conciliá-los? Jesus aqui diz que não devemos julgar as intenções da atitudes de nossos irmãos, não podemos legislar sobe algo que não conhecemos; condenando nossos irmãos que muitas vezes erram. Mas isso não nos impede de observarmos seus atos e vermos o fruto de suas ações. Alguém que dá frutos ruim se mostra uma árvore ruim, logo, devemos ter cuidado; não podemos julgar o coração daquela pessoas, mas também não devemos nos deixar enganar por ela.

Jesus nos ensina a agir com as pessoas da mesma forma que gostaríamos que agissem conosco (Mt 7.12), ou seja, se desejamos ser bem tratados, é assim que devemos tratar os outros. Esse é o resumo da lei e dos profetas (vs 12), respeitar o próximo e cuidar do seu irmão é o resumo de toda a lei

Somos alertados também a nos proteger dos falsos profetas, (vs 15) esse tema será recorrente no Novo testamento, muitos falsos mestres se levantam e tentam ludibriar e enganar a quem conseguirem; por isso precisamos estar sempre atentos aos frutos, ou seja, ao seu comportamento. Vale lembrar que operar maravilhas não qualifica ninguém diante de Deus; o próprio Jesus disse que:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. (Mateus 7:21-23)

Por isso, Jesus conclui que o importante não é conhecer as suas palavras, mas sim as praticar (vs 24), muitos de fato o ouviram, ainda hoje há muitos que conhecem suas palavras, mas o que diferencia um ouvinte de um verdadeiro cristão é a prática, é isso que no fim dos tempos diferenciará aqueles que estarão ao lado de Cristo, dos demais.

Jesus encerrou assim seu primeiro sermão conhecido em Mateus

E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina; Porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas. (Mateus 7:28,2)

Adriel M
Enviado por Adriel M em 07/05/2019
Código do texto: T6641365
Classificação de conteúdo: seguro