O AMOR DOS HOMENS E O AMOR DE DEUS.

“Confiai no Senhor perpetuamente, porque o Senhor Deus é uma rocha eterna.” Isaías 26:4

Existe um homem em quem se possa, verdadeiramente, confiar? Talvez possamos confiar em nossos pais, em nossos irmãos, porque somos do mesmo sangue. Mas mesmo nessa confiança, nunca devemos esquecer que o amor humano é limitado pela própria condição humana.

O coração do homem não sabe amar. A natureza decaída que existe no velho homem sempre encontra um jeito de macular o amor. Por mais que amemos os nossos familiares, não podemos livrá-los das deficiências inerentes a esse amor. Ao amor humano misturam-se, muitas vezes, o ciúme, a inveja, a impaciência, a usura, a falta de misericórdia, o julgamento, o egoísmo, o sentimento de posse.

Somos tão rápidos em julgar que, por vezes, esquecemos que somos irmãos e nos tornamos juízes. Além disso, os leques de laços fraternos se abrem, em determinada época da vida, e fragmentam ainda mais o já fragmentado amor do núcleo original: são os filhos de nossos irmãos, os maridos de nossas sobrinhas, as mulheres de nossos sobrinhos, os maridos das nossas filhas, as mulheres de nossos filhos,

os cunhados e as cunhadas, e todos os agregados que vão chegando.

Todos, e cada um, com a sua característica imperfeita de amar. Um amor que pesa mais do que acrescenta. Cada leque que se abre, pode somar ou dividir, e até diminuir, dependendo dos vários interesses em jogo.

Em princípio, existe uma única família: pais e filhos. Depois, cada filho vai constituindo o seu próprio núcleo familiar e os laços vão ficando mais frouxos dentro da família original. Enquanto vivem os pais, permanece bem vivo o amor entre os irmãos. Depois que os pais se vão, gradativamente, se vai também a convivência que nos era tão cara. Outras vozes nos chamam, outros amores nos solicitam, outras ligações exigem de nós a doação, o serviço, o amor e o sacrifício.

É a vida, é a lei da vida do homem natural. Talvez, alguns privilegiados, não se reconheçam nessa descrição. Sorte a deles. Mas esse é o retrato sem retoques da família humana.

A pergunta que eu me faço, é: como podemos amar uns aos outros, com a intensidade com que amamos os nossos próprios filhos? O amor dos pais por um filho é um amor sem fundo, um amor que nunca acaba, um amor que nos leva ao céu ou ao inferno, dependendo das circunstâncias que nos são impostas. É o mais alto nível de amor. Dali para baixo, existem as modulações de amor e isso acaba criando brechas nos relacionamentos familiares. Nem sempre é apenas uma questão de certo ou errado, embora seja importante que se tome o partido do bem. Mas quase sempre é uma questão de posição. A posição que ocupamos nos impulsiona para o lado do vínculo mais forte. E se não fosse assim, seríamos uma aberração da natureza. Qual o animal que não defende a sua cria até a morte?

O nosso amor não é perfeito. No máximo, ele se alarga, se embola, e se enrola nos braços que estão mais próximos de nós. O que passa disso é imitação do amor, como a bijouteria perfeita é apenas imitação da jóia. Como a bijouteria não resiste à ação do tempo, e logo perde o brilho, o amor humano também não resiste às intempéries da vida. E se houver envolvimento do vil metal na superfície, as vilosidades se espalham com o odor fétido da ganância.

Contudo, há esperança para o nosso futuro. Pois não é assim o amor do Senhor. O amor do Senhor é perpétuo, é de eternidade a eternidade. É um amor absoluto, não é um amor relativo. Existe de forma incondicional, não depende de nossa dedicação ou de nossa boa vontade. Se formos bons, o Senhor nos ama. Se formos maus, ele continuará nos amando porque não pode negar-se a si mesmo. Ele é a própria essência do Amor Eterno. Podemos confiar no Senhor perpetuamente, porque o Senhor é uma rocha eterna. Essa rocha nunca muda. Seu relacionamento conosco não admite relatividade, não prevê oscilações e nem mudanças. Nenhum outro amor ocupa o nosso lugar no coração do Senhor. Nenhum outro amor, nem mesmo o amor de nossos pais pode exceder a altura, a largura e a profundidade do amor de Deus. Esse amor é tão grande que deu... que deu... que deu... que deu o seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, para nos salvar da condenação eterna.

Às vezes, em dias de extrema decepção com a condição humana, eu me pergunto, o que levou Deus a amar o homem, esse ser tão indigno do seu Amor. Às vezes, eu sinto que essa indignidade é tanta, que , por mais que me esforce não consigo alcançar o tamanho desse amor.

Não temos concepção adequada para medir a grandeza do amor de Deus. Nossa mente não alcança. Mas temos um espírito. E é através desse espírito que podemos experimentar, ainda hoje, essa riqueza indescritível. O amor de Deus não foi feito para ser entendido, mas para ser experimentado.

Como não se pode entender o gosto de uma fruta, sem provar diretamente dessa fruta, assim é o amor de Deus: inteiramente desfrutável e nem um pouco mensurável.