Isto diz o senhor

(Reflexões baseadas em: Isaías 43,16-21; Filipenses 3,8-14; João 8,1-11)

Por que Jesus não deu atenção aos acusadores da mulher adúltera (João 8,1-11) e continuou escrevendo no chão, mesmo quando eles pretendiam apedrejá-la, segundo a lei de Moisés?

O que Jesus escrevia no chão, enquanto os acusadores esbravejavam contra a vida da mulher?

Qual é a atitude de Jesus diante dos pecadores e como ele responde aos que tentam condená-los? Por que Jesus age dessa forma?

Essas são algumas das indagações que podemos nos fazer, se quisermos desenvolver uma fé esclarecida; se quisermos aderir de corpo e alma à proposta de Jesus.

E a resposta às indagações nos são oferecidas pelo próprio Senhor, ao se dirigir à mulher prostrada à sua frente. Primeiro ele se dirige à mulher, indagando sobre os acusadores: “Ninguém te condenou?” E ela, certamente tremendo de medo: “Ninguém, Senhor”. Nessa hora é que Jesus explica o motivo de sua postura: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,10-11)

Condenar a mulher pecadora, não é o objetivo de Jesus. Deus não criou este mundo maravilhoso, pondo nele o ser humano como o ponto mais alto da criação, para condená-lo. Não é para a condenação que o ser humano existe, mas sim para a adesão a Deus, para o seguimento de Jesus Cristo.

Por isso Jesus diz: “Não te condeno”. E Ele diz mais: “Não peques mais!”

Quer dizer: Deus oferece o perdão a todo aquele que se percebe caindo pelas fraquezas humanas. Mais ainda: Ele deu a vida para nos livrar do pecado. Por isso, ao dizer “não peques mais” disse também: Eu te perdoo. Afaste-se daquilo que pode te lavar a morte. Fique comigo para ter vida.

O apedrejamento seria a morte. Ao evitar que a mulher fosse apedrejada, Jesus lhe oferece nova vida. Mas, para isso: “Não peques mais”. Quer dizer, mude de vida! A vida envolvida no pecado leva à morte, não do corpo, mas da vida eterna. Só o seguimento de Jesus nos mantém no caminho da vida.

Isso nos ajuda a entender o que afirma Isaías (43,16-21), ao exaltar os feitos de Deus para com seu povo.

E faz isso para exaltar a libertação do povo que estava em situação de opressão e de morte; para conduzi-lo em direção à vida. Para que esse povo tenha vida, diz o profeta, oferecendo sua voz ao Salvador: “Fiz brotar água no deserto e rios na terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores” (Is 43,20-21).

Aqueles que caminham para a vida plena cantam os louvores de Deus pois sabem que receberam a vida como dom de Deus.

Em nome dessa vida e direcionando-se para essa meta, prometida por Jesus, é que o apóstolo Paulo faz sua aposta (Filipenses 3,8-14).

Notemos a radicalidade de sua aposta: Tudo é um nada diante da proposta e promessa do Senhor: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo”. A aparente perda de tudo, significa um ganho supremo, pois isso implica fazer a aposta “para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fl 3,8).

Então voltemos à nossa indagação inicial: Por que Jesus não deu atenção aos acusadores da mulher adúltera e continuou escrevendo no chão? O que escrevia?

Sabemos que Jesus não quer a condenação e morte, mas a contrição e a vida. Talvez por isso é que, passou a escrever na areia alguns sinais de vida ao invés de confrontar os acusadores que desejam a morte. Talvez tenha escrito que mais grave que um erro carnal é a traição em relação à vida, um dom de Deus. Talvez os acusadores, querendo matar a mulher, não tivessem percebido que, eles sim, estavam traindo o preceito divino de preservar a vida. Talvez a partir de seu pecado de acusar, condenar e querer executar a mulher, não estivessem percebendo que se deve condenar o erro e o pecado, mas é necessário oferecer condições de perdão e recuperação ao pecador.

“Isto diz o Senhor”, fala Isaías. E Jesus repete: “Não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.”