“Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (cf. Gn 3,19).

O homem quando criado por Deus era dotado de dons preternaturais, e portanto, imune ao sofrimento e a morte. Mas, com a sua liberdade, ele optou pelo pecado (cf. Gn 3), o qual chamamos de pecado original, e como consequência, perdeu os benefícios que originalmente possuía.

Assim, a desordem se apoderou do homem, de modo que a sua alma não mais dominava o seu corpo, gerando as más inclinações e consequentemente a morte e os defeitos corporais.

“(...) pelo pecado o espírito do homem se afastou de sua subjeção a Deus, seguiu-se que as partes mais baixas de sua alma deixaram de estar totalmente subjugadas à razão. (...) Por isso seguiram-se a morte e todos os defeitos do corpo” (AQUINO, Tomás. Meditações para a Quaresma. A Morte, p. 83-84).

O homem é composto de corpo e alma. A alma por sua natureza espiritual é imortal, o corpo por sua natureza material e corruptível é mortal. No princípio, Deus dotou o homem da imortalidade, privilégio perdido por sua livre escolha ao pecado. Então, “(...) A morte, portanto, é natural se considerarmos a matéria de que o homem é feito, e é uma punição, uma vez que ocorre pela perda do privilégio pelo qual o homem estava preservado de morrer.” (Op. cit. p,84)

Por isso lemos nas Escrituras que: “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza. É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão. (Sab 2,23-24), corroborando o ensino de São Paulo: “Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 6,23)

Assim, o remédio para a morte e o pecado é a adesão a Cristo, pois “(...) Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós (Rm 8,10-11).

Porém, é no tempo de Deus (kairós), e não no nosso (cronos), que seremos libertos e alcançaremos a coroa da vitória, enquanto isso, resta-nos perseverar: “E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. (Mt 24,12-13).

Por fim, ensina S. Tomás de Aquino: “Ora, o que é certo é que, antes de chegarmos àquela glória de impassibilidade e imortalidade que começou em Cristo, e que por Cristo nos foi adquirida, nós devemos nos moldar segundo o padrão dos sofrimentos de Cristo. É, portanto, certo que a suscetibilidade de Cristo ao sofrimento deve permanecer conosco também por um tempo, como um meio de chegarmos à impassibilidade da glória pelo caminho que Ele mesmo percorreu” (Op. cit, p. 85).

Diante do exposto, carreguemos nossa cruz (cf. Mt 16,24) com galhardia, tendo os olhos fixos no alvo (cf. Hb 11,26), pedindo sempre a graça de Deus para essa jornada (cf. Jo 15,5) e a intercessão de Nossa Senhora, modelo perfeito de adesão a Cristo (cf. Jo 2,5).

Santa Quaresma a todos!

In caritate Christi,

Léo Martins

REFERÊNCIAS

AQUINO, Tomás (Santo); Mézard O.P., Pe. Denys (org). Meditações para QUARESMA. 1ªed. Ecclesiae (CEDET), Campinas-SP, 2017

Bíblia Sagrada – Edição Ave Maria (2018).

Leandro Martins de Jesus
Enviado por Leandro Martins de Jesus em 14/02/2024
Reeditado em 14/02/2024
Código do texto: T7999227
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