Sobre a vida, a quem interessar possa (por um espírita)

Mesmo eu carregando nos ombros o peso de várias amizades, eu não sei se sou bom o suficiente pra tal tarefa. Às vezes deixo à mercê de meu orgulho ou egoísmo, algumas pessoas que mais tarde eu descobriria que são fundamentais na minha vida. Como Prometeu acorrentado na montanha que, noite após noite, dia após dia, hora após horas, sofria o eterno castigo, eu quando me descuidava e perdia grandes amizades, sofria com as vísceras eternamente dilaceradas pelo abutre da minha ignorância. Num mundo como o nosso, uma atitude, uma escolha, sendo essa certa ou errada, acarreta-lhe uma série de conseqüências e subconsequências, sendo essas de vez em quando esmagadoras. Entretanto, o tempo passa. E se tudo passa, o show tem que continuar, os atores não podem fraquejar, cair, não saber levantar-se. Qual a nossa complicação maior em relação a nós mesmos? Ao meu ver seria quando o nosso psiquismo enlouquecido, a nossa mente doentia dá voltas sob um ponto que se desata no infinito. Daí o que acontece? Nosso drama pessoal transforma-se numa tragédia. Quão bom foi Ésquilo em nos avisar lá no tempo da gloriosa Atenas. Ele lá na Grécia, a mais de 500 anos antes de Cristo já versejava suas tragédias como a do infeliz Prometeu. Mas, alguns milênios terrestres mais tarde, houve um acontecimento fenomenal no nosso planeta. Jesus Cristo, o Filho do Homem veio a Terra. Cristo veio trazer a salvação, segundo suas próprias palavras: "Quem crer em mim terá a vida eterna. Eu sou o caminho, a verdade e a vida”; e desse modo a luz varreu as trevas e nosso orbe foi iluminado tal qual um enorme saguão escuro trazido de volta à luz com o sol de uma manhã de verão. Desse modo tão simples, com aquele menino tão simples, tão frágil, tão comum, nascia para os terráqueos uma forma de salvar-se deles próprios. Nosso Mestre, nosso amado Mestre, reflexo de Deus feito homem. Passados todos os anos e aqui faço menção a pouca ou quase não existente necessidade em relatar os fatos do nosso mundo, tal como guerras, conflitos e coisas do tipo.

Já demasiadamente falado por tantos, a espiritualidade se faz presente no nosso cotidiano, mesmo nós não percebendo tal fato. A vida que se descortina após a morte pra muitos é um mistério indecifrável, pra outros tantos um pesadelo, e pra outros ainda um desejo, uma curiosidade. Infelizmente, nós passamos grande parte da vida imaginando o que se passa após a morte. E, quando morremos ficamos ainda ligados às coisas da Terra. No final ficamos estacionados, parados no nosso conformismo espiritual. Sempre lembro de Gogol e seu livro, "Almas mortas". O pior buraco em que o ser humano pode se meter é a morte espiritual. Tal qual o primeiro trago, a depressão mundana se apresenta como processo de iniciação para a morte espiritual. A partir daí, formam-se colônias e mais colônias na espiritualidade de seres moralmente complicados, de seres devedores para com as urgências cármicas correspondentes. E assim, como no caso do hospício na Terra, na espiritualidade aglutinam-se seres e mais seres, na casa do bilhão, dentro de um lugar chamado Umbral, tão perfeitamente e assombrosamente descrito por Emannuel, através de Chico Xavier. Suicidas, assassinos, e gente da pior espécie se amontoam nas regiões umbralinas perdidos dentro do próprio ego, cegados pela loucura espiritual. Afastando-se desse cenário triste e deprimente, que felizmente atualmente já está quase totalmente extinto desse orbe terrestre, nossa rotina nos impõem regras, vivências, manias, costumes e tradições. Longe de colocar a culpa dos nossos erros na sociedade, que se apresenta aos meus olhos como algo inanimado e abstrato, o Homem destrói e constrói. Como já disse Caetano Veloso, é a força da grana que ergue e destrói coisas belas. Mas pior do que destruir com o dinheiro é destruir com o ego, com a nossa essência. Destruir lares, famílias, pessoas, irmãos. Tal qual uma criança que tem uma facilidade incrível em destruir, mas tem muita preguiça em reconstruir, nosso "orfanato terrestre", passa pela mesma situação. Felizmente para nós existe um Pai, grande e bondoso que olha por todos esses órfãos e órfãs. E sabendo da nossa incapacidade em administrar o que nos é pedido, Ele mandou Seu Filho. E prevendo a continuidade dos nossos erros, esse Filho por si só, tomou a decisão de aqui retornar. Segundo Ele próprio: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.Cristo, nosso irmão mais velho veio e virá ao nosso socorro. Mas, muitos se perguntam: e o que temos nós a ver com tudo isso? Bom, quem sou eu pra querer ter respostas? Já aprendi que quem tem respostas é o Pai, eu apenas faço novas perguntas. E sabendo dessa minha capacidade eu pergunto comigo mesmo: o que eu quero para minha vida? O que eu tenho como mais importante no meio disso tudo que se passa comigo?

Como já dito no início, eu não tenho pretensão de nada, até porque não me cabe tal responsabilidade, e apenas senti que seria bom se eu escrevesse. Estando certo ou errado nessa decisão, ela já foi tomada. Se eu vou acertar ou errar o tempo dirá, mas mesmo assim eu já me contento, pois eu sou o piloto do meu próprio destino, sou eu quem tem esse ônus de levar adiante minhas escolhas, ações, erros e vitórias.

Como já dito nos Vedas hindus: "Ekam sat vipraaha bahudaa vadanti"; ou seja, "A verdade é única embora os sábios a conheçam como muitas"; e assim sendo, espero um dia encontrar a verdade da minha vida. Espero que você encontre a verdade da sua vida. Enquanto caminho perdido incapacitado de achar a resposta, mesmo tendo como grande apoio o Mestre Jesus, tento ao menos na minha condição vergonhosa enquanto ser humano podre que sou, ajudar os que estão próximos de mim. Muitas luz e paz e saibam que peço ao Pai que olhe com compaixão para todos nós.

Enrico Vizzini
Enviado por Enrico Vizzini em 19/03/2008
Código do texto: T907794