O ROUXINOL E A ROSA

Razão, pouco válida

Escudo, uma folha de papel em branco

Espada, uma caneta carregada de tinta.

Com estes três elementos sagrados

Construo o Paraíso, ambíguo, também teço o inferno.

Trabalho sob o signo da inspiração

Meu burlesco coração aventureiro de palavras

Minha alma um emblema poético

Deste corpo sonhador e sofredor.

A Poesia é a roseira improdutiva de pétalas rubras

O poeta é o rouxinol que se aperta contra o devasso espinho

Fazendo nascer do seu coração sacrificado a rosa tingida de vermelho

Resultado da entrega conjunta do sangue do Poeta (rouxinol) e da Poesia (roseira).

Nada é mais belo e triste que o canto

Dos dedos solitários do poeta a tecer

O corpo da dama verdadeira de lírica e estética

Na negra noite diluída em sonhos a alva crescente resplandece.

Poeta versando cantos, encantos e temores

Para sua amante tão humana, tão singela, tão gloriosa.

O Céu de Deus deve ter sido feito

Num momento de inspiração poética do Criador.

Lustrarei minhas penas, meu emblema, até que a alma seque

A última gota de poesia; extrairei tudo, tudo de mim

Sou devoto daquela que é a mais pura essência

Porei meu coração num espinho rosicler em nome

Da mais digna de amor verdadeiro

A Bem-amada, única e eterna: Poesia-rosa

Este é o sacrifício final do seu valente poeta-rouxinol.

* Poesia homônima de (O Rouxinol e a Rosa/ The Nightingale and the Rose – 1888). Um conto do escritor Oscar Wilde.