O papel do poema

Desintegro-me e me componho no poema

Envio-me e estou em cena,

Ordinário... vil, sem dono e sem nexo

Obediente, impresso no papel

Prove da minha essência em versos

Cuspa se não agradar o gosto

Ou faça um gesto obsceno

Chama-me de imoral,

Esfrega-me no seu rosto,

Na sua boca, no seu sexo

Estampa-me no Pasquim semanal

Na contra capa do seu livro didático.

Recorta-me um boneco

Dê-me um formato de gente

Um recurso pedagógico

Ou uma dobradura oriental.

Faça desse poema o que quiser,

Aperte-o entre os dedos

Até que neles não reste uma gota sequer.

O bagaço, pode usar sua força

E arremessá-lo pela janela

Talvez sirva de alimento para um cão

Ou de esterco para a terra.

Está na sua mão qual destino lhe dar

Eu, no seu lugar seria bem criativo

Caminharia até o cesto mais próximo

E o despacharia para o aterro

Num descarte seletivo

Luzineti Espinha
Enviado por Luzineti Espinha em 04/05/2017
Reeditado em 05/05/2017
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