Lamento de um Pedinte

Como toda tarde,
espero o semáforo fechar num Sol que arde.
Olho os carros passando.
Me pergunto no que estão pensando.
Por quê correm com tanta pressa
Sem me notarem na minha eterna espera?
Espero que consiga sobreviver por mais um dia.
Madame, por favor me dá trocado
para eu comprar uma comida?

De novo, abandonada
Sem resposta.
A endinheirada assustada
fechou o vidro na minha cara.

Expresso minha angústia
Não tenho direito a uma resposta digna.
A injustiça tirou minha vida.
O farol verde ascendeu.
Você foi embora e nem percebeu
Que morri de fome
E por não saber se algum dia realmente
eu tive um nome.

Esse poema é a minha resposta.
Gritei em silêncio até a morte
esperando ser atendida.
Mas só quando a fome não puder mais matar ninguém
A minha voz será de fato ouvida.
A verdade dói, mas precisa ser dita
Para que a injustiça
possa ser desfeita algum dia.

Beatriz Nahas
Enviado por Beatriz Nahas em 10/10/2017
Reeditado em 26/10/2022
Código do texto: T6138767
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