Os versos e a terra
Ao escrever meus primeiros versos no chão de terra,
Senti que poderia ser uma vítima culpada do por vir.
O medo da perda escondeu-os de outros olhos,
Impedindo a sensação de paz por mim sentida.
O medo da perda a privou de outras pegadas,
Impedindo a vida simples de outras vidas.
No silencio da noite, furtei duas vezes,
Uma vítima foi o mundo, a outra minha vida.
Cerquei a terra e escondi meus versos,
Mas ambos eram tão não meus quanto seus.
Se os versos da vida estavam escondidos,
A terra do mundo agora tinha um dono.
Escondidos e cercada…
Os versos foram escondidos de tal forma,
Que nunca mais os encontrei.
Percebi por fim que eles escondiam-se de mim.
Fugiam daquele que os fez, o egoísta criador.
A terra fora liberta pelo tempo e pela força.
As cercas apodreceram e a terra retornaram.
Notei a lógica da existência dos versos e da terra.
Livres e sem dono. Livres, logo, de todos.