Alminha de poeta

Quem pensou esperar a dor para escrever,

ah!Como o sofrimento nos mói,

o poetinha moído de dúvida

moído de dor

moído de expectativa

sofria, sofria

prometia o seu sofrimento,

a poesia estava distante,

olhava seu invólucro,

tão duro parecia tartaruga,

dentro, tudo caído,

o medo tomava conta

o poeta sofria

sofria por um boato.E a noite se fez longa,

longa como tarde de sexta-feira santa

o céu estava azul

azul de mágoa

azul de dúvida.

O poeta queria chorar

chorar, não só o seu mundo

chorar o mundo que se consome

em boatos em guerras pessoais

em idis constrangidos e falidos.

Na noite que vivia

tudo era dúvida,

mágoa.

O poeta era um ser inerte,

inerte em toda sua dor,

os olhos de minha mãe eram vermelhos

como os olhos de minha mãe

faziam-me sofrer.

O rádio, o telefone, o dia se aproxima

a dúvida, a dúvida

a alma do poeta se confunde,

uma explosão de megaton ameaça

o ar está pesado,

as almas estão pesadas,

o corpo do poeta é pequeno

o cérebro do poeta quer explodir

a alma do poeta quer dormir

e acordar em outra paragem.

O poeta quer dormir neste mundo

e não consegue,

o poeta quer um silêncio para respirar

e não encontra,

o poeta quer rir, mas não encontra um riso

quer falar , mas não tem boca,

o poeta quer chorar

e não sabe como fazer

seus olhos não tem lágrimas

ou melhor sua lágrima, seria apenas uma lágrima

o poeta quer chorar com alma e

não sabe mais,

perdido, perdido entre as batidas de prego na madeira

consumido por vozes apagadas

o poeta está

entre a cruz

a espada e a ribanceira,

todas crucificantes,

no mundo o poeta quer sair,

mais ele sabe , sua alma proclama,

aqui, é que você vai ficar

o poeta continuará

sem saber o que fazer,

sem achar o que fazer

procurando na palavra sua salvação.

Conceição Cardoso
Enviado por Conceição Cardoso em 07/06/2018
Código do texto: T6358469
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