Ária

Fazer poesia é perder,

colher frases mundanas e,

mudando-as,

soltá-las por aí,

asas em verso transformadas.

Depreender do próprio olhar

algo a mais do todo ao redor,

sublimar céu terra mar,

e, por um segundo,

compreender tudo.

Na ausência da música,

o esforço de pensar sinfonias

inexistentes,

e caso haja lápis e papel em mãos,

transcrevê-las.

Nossas próprias letras – esvaziá-las,

preenchê-las de vislumbres (“deliciosos quases”)

no que restou de poético.

A sinfonia do momento reduzida

a pequenas árias

– fragmentos de sol –

que resistiram no poema enfraquecido.

João Gremski
Enviado por João Gremski em 24/09/2018
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