Ária
Fazer poesia é perder,
colher frases mundanas e,
mudando-as,
soltá-las por aí,
asas em verso transformadas.
Depreender do próprio olhar
algo a mais do todo ao redor,
sublimar céu terra mar,
e, por um segundo,
compreender tudo.
Na ausência da música,
o esforço de pensar sinfonias
inexistentes,
e caso haja lápis e papel em mãos,
transcrevê-las.
Nossas próprias letras – esvaziá-las,
preenchê-las de vislumbres (“deliciosos quases”)
no que restou de poético.
A sinfonia do momento reduzida
a pequenas árias
– fragmentos de sol –
que resistiram no poema enfraquecido.