Retorno a Porto das Caixas

Retorno a Porto das Caixas

Sou um escritor,

Um escandalizado pela palavra

E eles querem que eu seja claro e fluídico

E lhes traga paz

Sou um escritor,

Um amputado de útero

E eles esperam que eu corra,

Corra para apontar-lhes o caminho

Sou um escritor,

Um pretenso mestre do entalhe a frio em papel

Que entalha as dúvidas antes que elas me empalem, crucifiquem

E eles, os fiéis da fome, esperam que eu lhes traga os pães frescos das respostas

Sou um escritor,

Um capturado-enquanto-fugia

Pelo frio lá fora

E eles, ternos,

Esperam que eu os aqueça

Os não-escandalizados, os não-mutilados, os que não duvidam:

Eles, os que escaparam do frio.