A porta

Era a porta.

Grande e imponente como fora minuciosamente descrita.

Era ali, na frente, uma grande conquista.

empenhei anos de perguntas e aprofundamentos,

pus-me a escutar a essência das palavras dos sábios;

decifrar os tortuosos conselhos dos mestres, ainda assim, boa parte do caminho tive que seguir errante em mim, guiado apenas pela intuição no mar infinito de minha alma.

Venci, como um guerreiro, o medo.

o medo de ser quem eu sou, ao contemplar o Eu-destino;

o medo de perder o que na verdade nunca possuí

o medo de querer somente o que se é querido.

E foi assim que deparo-me ali, de frente para o portal.

Subi alguns degraus e verifiquei: não havia fechadura.

Era o esperado para um lugar tão sagrado: o acesso, é para todos.

do outro lado havia as respostas

para as perguntas mais profundas da existência.

Logo ali, amparado apenas pela porta.

Encosto o rosto e sinto sua pureza grandiosa

que só perscrutamos quando crianças.

*

Abro a porta, sereno.

Pleno de mim e de meus intentos.

Preparado para o que for possível encontrar.

Mas tudo que vejo é o breu. O que ouço é o silêncio. O que sinto, um vazio.

Então percebo distante, uma presença conhecida

de um amigo que sempre guia:

"conquistou o direito de entrar nessa sala

e isso é um grande feito para consolidar bênção da Grande felicidade

Aqui, existe em todos nós as respostas do grande mistério, o tesouro dos sábios."

Saio da sala.

Tenho vontade de rir, e rio. É triste e feliz o sentimento de rir, mas rio alto dentro de mim.

Devia saber,

desde o princípio,

das verdades mais básicas.

Deveria saber,

como ser que sou,

aqui da Terra que

"Só um espírito preenchido de amor iluminará o espaço,"

"Só uma alma repleta de harmonia desanuviará os segredos"

"Só um propósito ponderado se transforma em si pra ser eternizado."

Com um pouco de vergonha, deixo o local.

Fico de costas para o portal, tentando não perder a localização.

Respiro fundo, olho pra porta, toco ela com as mãos. Sinto sua textura e força, seus fundamentos, seu calor.

Olho para mim mesmo e dou conta da minha imaturidade.

Vejo que cheguei até aqui talvez por imensa piedade

pra reaprender uma velha lição que tinha esquecido.

Agradeci a bondade dos astros por me guiarem

mesmo que me faltassem valores...

então outra velha máxima me fiz relembrar:

"A busca nunca é em vão"

Desencostei as mãos da porta. Me pus de pé diante dela:

- "Prometo voltar, e não virei sozinho."

Uma promessa é a única coisa que me restava

equiparado à imensidão de bondade que me rondava.

Era a única coisa tão profunda quanto um querer que estava imaturo, mas não estava perdido.

...E se foram palavras minhas ou de meu ego ali ditas,

só o dia quando houver luz à sala, quando ouvir som das falas

e possuir um belo concluso propósito, saberei.

agora, de volta ao caminho.

28/11/2013

FlávioDonasci
Enviado por FlávioDonasci em 29/12/2018
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