PORTO SEGURO ( ou Sob as fileiras de José Régio) a Francisco de Assis Gois.

Tu me planejas, fazes para mim

O que nem mesmo eu desejo.

Fazes planos e me planificas,

Queres-me plano.

Entretanto, do princípio ao fim,

Tenho sido mais fugaz do que o beijo,

Todas minhas frentes e costas ricas

Cabem no cano.

Pretendes arejares e mudares, trazes planos,

Ignoras que meus caminhos são oblíquos.

Sou íngreme, torturado e tortuoso.

Enquanto mansionas, eu me acabano...

Teus cantares concisos... os meus profícuos...

Tua feitura em seda e eu, todo jutoso.

És raiz, apega-te à terra e às profundezas.

Tenho consistência de copa, busco as alturas,

Indiferente aos perigos dos grandes tombos.

Pautaste-te pela busca insana por riquezas,

Nessa dinâmica não há espaço para canduras,

Abandono lutas antes do soar do gongo.

Sou cheio de meandros e sinuosidades, serpenteio -

Tu, tu procuras linha reta, o alvo ao final dela !

Sou torto,perambulo pelas trevas, nunca me cerceio,

Pois não me sabem planos ao saltar pelas janelas.

Lá na imensidão negra do futuro mais futuro,

A certeza de que o andar na terra é para quem erra

E tomado desse andar errante, pouco dou-me ao que aterra,

Tanto faz se sou ou não porto seguro.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 11/04/2019
Reeditado em 11/04/2019
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