Sub specie aeternitatis
Esta imagem que entrevejo no poema, alguém já a teve;
Alguém decerto já traçou na argila, no parco pergaminho
A pedra, o minério, a matéria inexata em que defino
Aquilo que o silêncio ainda detém.
Imagino o poeta de casaca em sua província
Entrevejo o aventureiro no deserto em que definha
Com a pena no tinteiro e as unhas na areia
A esperar o poema que não vem.
Depois contemplo a lentidão mudada em geografia
No papel logo amassado e na areia indistinta
Estas orlas arredias que hoje eu vejo:
A imagem, a música, a ideia consabida
Que nos negaceia a visão do poema e nos anima
De uma seiva febril que nos unifica
E nos vence também.