Soneto de partida

Junto de todas as formas e vestígios de omissão de dor.

Que demonstram a minha verdade.

O que está dentro de mim, dispensa e repudia a encenação.

As normas que imitam a agonia.

Parto desse sentimento, um pecado sem esperança.

Na postura da não-significação, não há roteiro, não há solução.

Enumeramos sentimentos porque não devemos transcendê-los.

Ultrapassamos os limites do que podemos comunicar sobre o que sentimos.

Depois desse limite, o sentimento que tenho do mundo é mais claro do que qualquer ciência.

Me calo diante desse abismo, simplesmente porque já não faz sentido dizer nada.

Chego à compreensão, porque também chegamos à inteligência através do coração.

Tenho uma nefanda evidência.

O sentimento e o mundo recostados um sobre o outro mudos.

Sem poderem se abraçar.