Sujeito não-lírico

Sou veterano principiante de poesia

Sou o adolescente de versos

suspirados pela garota inalcançável

o estudante crítico de gritos rimados

por um mundo tão distante quanto o amor

o adulto de dias apertados com brechas

fugidias para salvar-se nas palavras

Conheci tantas vidas que não conheço

Meus pés dançam em palcos estranhos

e meu coração, da plateia, sonha outros

cenários que se enfeitam de poemas

O espelho me recorda que o tempo existe

e, lá do meu abismo, uma voz pergunta

“como assim?” - e volta a dormir na poesia

Vou tateando a vida em cegueira dessabida

Não entendo e desconheço quem entenda

A poesia se dispensa, pois não pretende saber

Ela apenas me acompanha no vazio do querer

e em todos os outros quereres, desses que só

os poetas, mesmo os que não são, desejam

E eu não sou. Mas meu peito nem liga e sorri.

Quero terminar, mas Quintana tem boas reticências

“Enquanto o poema não termina

a rima é como uma esperança”

Pensei aqui, Quintana, que a poesia

não precisa acabar na última linha

Então, vou descer da montanha e

pegar outra pedra - há tantas no caminho

Sou principiante veterano de poesia

e que possa principiar até o verso final,

até não ter mais montanha para subir,

até deixar o palco que o tempo sempre muda

e me encontrar comigo mesmo na plateia

Mas tenho o mal de poeta que não sou

e desejo poemas que não morrem e

Osvaldo Júnior
Enviado por Osvaldo Júnior em 28/07/2023
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