O canto das baleias

Entre os sons que mandamos para o espaço, está ou deveria estar o Canto das Baleias.

Será, porventura, o mais espantoso fenómeno natural vindo de um ser vivo, superando tudo o que fez a humanidade antes desta se aliar à tecnologia e fazer o impossível.

É algo de espantoso o facto de um som se propagar a tão grande distância, pois se compararmos tal à escala humana, é como se um de nós em vez de mandar uma mensagem, de telefonar, para um país distante, simplesmente se limitasse a gritar que seria ouvido.

Claro que há fenómenos que beneficiam isso, como tal ocorrer debaixo de água, a frequência em que é emitido, além dos oceanos serem locais relativamente silenciosos se comparados com a superfície da terra, onde o ruído é tanto que por vezes nem nos conseguimos ouvir uns aos outros a apenas alguns metros…

Notável, majestático, esplendoroso, animais tão grandes além de serem tão graciosos serem capazes de tais sons, de uma beleza impar, quase transcendente…

É um som que ficará perdido no tempo, e destinado a meros registos tecnológicos, pois é um som, de forma inevitável, em vias de extinção, que um dia os nossos netos contarão aos seus filhos, tentarão descrever, em vão, a sua beleza, e tentarão explicar a grande tragédia humana de estar destinada a conviver com o belo, e a exterminar ao mesmo tempo esse belo…

Mas se calhar é melhor que esse som fique por cá, e se extingue com a humanidade, pois se uma consciência não humana tomar conhecimento desse som, e de certamente se apaixonar por ele, não vai deixar de se interrogar sobre esse estranho e pequeno ser, que dominou de uma forma breve o planeta, e que além de extinguir quase tudo o que o rodeava, se extinguiu a si próprio, essa consciência certamente se vai inquirir sobre a nossa brutal dicotomia, essa atracção pelos extremos, “capaz de gerar a mais imponente arte, e ao mesmo tempo capaz de matar um semelhante a si, por razão nenhuma que o justificasse”…

Porque o canto das baleias significa também o nosso canto, funciona como espelho do que somos, pois somos capazes de ir mais longe do que seria esperado ou previsto, mas ficamos onde estamos simplesmente porque decidimos que ir tão longe não valia simplesmente a pena…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 29/09/2012
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