O futuro do ouro…

Nasci e vivo numa época em que os avanços tecnológicos se sucedem com uma tal cadência que quase toda a gente não se espanta com as novidades que vão aparecendo, esperando sempre a próxima, uma época em que a ciência ganhou de tal ordem o respeito dos cidadãos que perante algo de inexplicável estes esperam que seja a ciência a explicar-lhes esse fenómeno aparentemente inexplicável, em vez de o considerarem sobrenatural e esperarem que seja o misticismo e não a ciência que lhes revele o que é…

E o que disse em cima é importante para a história que vou contar:

Na minha época o mercado de antiguidades revelou-se ser dos mais importantes de toda a economia global, de tal ordem que oscilações neste mercado poderiam originar ora crises ora booms económicos.

A certa altura este mercado começou a ser inundado por objectos de toda a história humana, objectos raros mas num assombroso estado de preservação, parecendo praticamente novos, o que levou a instabilidade deste mercado, logo de toda a economia planetária.

Era necessária a intervenção de especialistas, e por isso foram chamados os melhores historiadores, que analisaram esses objectos e confirmaram que eram verdadeiros, feitos com ferramentas e materiais da época, mas no entanto…Tal parecia ser bom demais para ser verdade, pois era como se se tivessem encontrado numerosos jazigos imunes ao tempo onde os objectos ou artefactos se conservaram de uma maneira espantosa. Além do mais os investidores exigiram saber se estavam a gastar fortunas em algo realmente valioso.

Ora um caso ou dois isolados seriam admissíveis, plausíveis, mas estamos a falar de muitos, e de diversas épocas…

Naturalmente que algo não batia certo…

Foi então que pediram a intervenção da minha equipa.

Eu fazia parte de uma equipa multidisciplinar de peritos das mais diversas áreas, que incluía historiadores, cientistas de vários ramos e detectives, os melhores entre os melhores e que só eram chamados quando se procuravam respostas definitivas a uma determinada questão.

O que nos foi pedido era confirmar com toda a certeza se os objectos eram autênticos ou não…

Dividimos a nossa equipa e cada uma fez parte dessa equipa fez o seu trabalho, depois reunimos os dados que eram os seguintes:

-Os vendedores dos artefactos exigiam sempre ouro em troca dos objectos

-Os testes laboratoriais indicavam que os objectos eram de facto novos, o que poderia ser uma prova que indicava serem meras cópias, mas o verdadeiro problema surgiu quando se constatou que muitos deles eram feitos com materiais que já não existiam, como árvores e arbustos há muito extintos, ou seja, teriam sido feitos na sua época, embora a análise indicasse que os materiais eram novos, apesar dessas épocas serem bem distantes…

Chegámos então a um impasse dado não podermos dar uma resposta a quem nos tinha contratado.

Mas tínhamos mesmo de encontrar uma resposta porque além de ser todo o mercado de antiguidades que estava em causa (além da credibilidade deste, quem vendia as peças pedia quantidades exorbitantes de ouro que obrigava a um endividamento dos compradores, quer fossem eles particulares ou instituições dos diferentes governos do mundo) e consequentemente de toda a economia global, era também a credibilidade da nossa equipa (considerada a melhor) que se fosse posta em causa podia levar-nos à falência…

Com tanta coisa em jogo, admitimos qualquer tipo de hipótese, mesmo que parecessem parvas ou absurdas…

E elas surgiram, todas descartadas, até que uma pareceu ser a correcta…

- Um de nós colocou a hipótese dessas peças serem obtidas na sua origem, no seu tempo de origem…

Ora todos estávamos a par dos estudos teóricos que indicavam serem possíveis as viagens no tempo, não no nosso tempo, mas algures no futuro, onde estudos mais avançados e uma tecnologia superior possibilitariam de facto as tais viagens…

Estabelecemos então um plano: Se capturássemos um dos vendedores bastava interroga-lo para saber a verdade que nos escapava e consequentemente do esclarecimento do mistério.

O que foi fácil, pois mal surgiu o anúncio de alguém a querer vender um artefacto esperadas (“Estado impecável de conservação e exigência da transacção ser efectuada em ouro”) fizemo-nos passar por um cliente interessado e capturámos o vendedor.

Adivinhando que o vendedor dificilmente iria falar, fomos directos e expusemos os factos, coagindo-o ameaçando-o naturalmente, ameaçando-o de todas as formas possíveis fossem elas legais ou ilegais…

O que nos contou foi a todos os níveis surpreendente:

Algures num futuro ainda distante o ouro acabou, o que gerou uma crise sem precedentes pois essa era uma das últimas riquezas naturais do planeta que ainda restavam.

Um grande grupo económico, em desespero, financiou então a invenção de uma máquina que permitisse a agentes seus arranjarem objectos ao longo de toda a história da humanidade e depois os trocarem por ouro no meu tempo, dado este ter sido conhecido como a época em que o ouro era mais facilmente transacionável…

Mas eles estranharam, porque depois do ouro obtido, quando chegavam ao seu tempo este desaparecera…

O problema foi resolvido pois declarámos os objectos falsos, porque para o mercado em questão eram falsos, dado ser a passagem do tempo que lhes dava parte significativa do valor…

Mas esta história também nos permitiu tirar algumas preciosas conclusões…:

A ganância desmesurada cega qualquer pessoa ou entidade, mesmo as pessoas mais brilhantes, como cegou quem inventou e patrocinou a máquina, que deveria saber que quando se faz desaparecer algo do presente este também desaparece do futuro…

Porque a ambição excessiva, a ganância desmesurada, pode tornar imbecis e primárias mentes brilhantes que se esqueceram que só são brilhantes enquanto se deixarem guiar pela razão e pelo raciocínio…

Sem isto o homem é apenas um animal igual aos demais animais, um animal que faz uns truques diferentes, mas q não passa disso, de um mero animal…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 01/05/2013
Reeditado em 01/05/2013
Código do texto: T4268903
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