SANGUE NO SOL DO ASFALTO

“Moço, me dá um trocado aí.”

“O quê?”

“Um trocado, moço. Tô pedindo um trocado.”

“Ih, gastei meu último centavo nesta coxinha aqui...”

“Então, me dá um pedaço aí, vai.”

“Toma. Pode comer tudo. Aproveita e divide com o teu colega aí.”

Olhando por cima dos óculos, o homem estende a coxinha para o garoto – o que permanecera calado.

Depois, vai embora a passos rápidos pela calçada.

O primeiro menino cutuca o amigo:

“O safado tava de caô. Sacou só, né? Eu vi quando ele comprou a coxinha e recebeu o troco dos 20 conto.”

“Canalha... E agora?”

“Agora é seguir o puto e dar um esfrega nele. Tu topa?”

“Ora se topo!”

Coitada da coxinha: abandonada, rolou pro sol do asfalto, toda ensanguentada de catchup.

Hélio Sena
Enviado por Hélio Sena em 24/02/2015
Reeditado em 24/02/2015
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