som do core de rua

e então que dobro a esquina, pensando ouvir nova música no bar da frente, mas aquela melodia antiga ainda parece me seguir quando atravesso a rua. eu chego ali do outro lado, fico mirando a passagem, e o som abafado do novo lugar dá espaço pra uma confusão de sonoridades no meu ouvido. tomo então uma cerveja, esqueço, tomo outra cerveja, e esqueço a letra da canção que estava penetrada na mente até então. danço por três noites seguidas a mesma música nova que não sai da minha pulsação, até se desvair no ar. sigo em frente pra chegar então em outro bar, atravesso a rua, dobro outra esquina, e volto a ouvir aquela melodia antiga, tocada por uns dois ou três músicos hippies sentados no chão. vem uma moça de algum lugar que eu não vi - eu a conheço, talvez - e me segura nos braços, cantando pra mim pra eu não esquecer a letra. eu fujo dela, mas sua voz é tão doce, não consigo parar de ouví-la como uma sereia de um mar sem fim. canto junto lembrando, mas corro esquecendo, ou querendo, e fico, caída no meio do chão.