JANAÍNA

Após nossa primeira conversa, rapidamente percebi que ela tinha um dom incomum: a capacidade de compreender que a vida é o mais raro dos presentes. Não tinha tempo para simulacros, criar disfarces para uma suposta felicidade. Não era adepta de redes sociais ou coisas do gênero, ainda que eventualmente gostasse de ser admirada. Mas em primeiro lugar, sempre o amor próprio. Desencanada, admirava o reflexo do espelho, sem se importar com celulites, estrias e gorduras localizadas. Gostava, acima de tudo, do contato com a natureza: banhos de cachoeira, o toque das pedras escorregadias sob seus pés, o calor emanado de uma fogueira enquanto seus olhos contemplavam o brilho dos astros celestiais. A um só tempo, era bela e perene, feito as flores do cerrado que tanto admirava. Ela própria era uma demonstração da força da natureza. Confesso que no início tamanho desprendimento me assustou. Mas não demorou muito, e logo sucumbi ao magnetismo que ela exercia sobre todos. E tive a convicção de que não abdicaria da sua presença tão cedo.

Glauber Ramos
Enviado por Glauber Ramos em 19/06/2016
Código do texto: T5671570
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.