6h e 36min da manhã

Festivas, respeitosas, assíduas, assim que o dia raiava, um bando de 100 ou mais maritacas esverdeavam o pé de goiaba que fica ao lado de minha janela. Ficavam por lá duas horas, ou mais.

Despertava, lavava a cara, cuspia a preguiça na latrina mal cheirosa, donde subia uma nata amarelada e fedida, ei ia em busca de goiabas para fazer a goiabada. Sentindo-me Shakespeare, adoro um cafezinho quente soprado pelo casal Romeu e Julieta. Certa manhã ao avistar o pé, notei que estava na estação verão. Bem-te-vis, sabiás e joões-de-barro perguntaram-me se sabia o paradeiro das linguarudas maritacas. Aliviados, confidenciou-me que onde elas estão, ficam longe: "ou ela, ou nós". Não entendi muito, mas deve ser pela alegria delas. As mocinhas voam longe e são melhores ainda de go-gó; e piam que só!

Estou com saudades, um pouco frustrado e bastante sorumbático, faz tempo que elas não cumprem com o papel delas, que é despertar-me; aliás, por perder a hora, estou escrevendo agora esse conto. Pelo atraso, perdão e desculpas, eu peço de coração!

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 07/03/2017
Reeditado em 08/03/2017
Código do texto: T5933099
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