CICATRIZES

-"Nossa como você está linda!"

-"Ai pode parar! Esse tipo de comentário não me comove mais."

Sentiu, ao ouvir a resposta dela, uma tristeza funda. Algo assim como uma desilusão. Saiu e foi na varanda, disfarçando uma lágrima rebelde. Pegou em seu "esconderijo" um cigarro, abriu o portão e o acendeu na rua. Faziam vinte dias desde que fumara o último.

Encostado no muro de sua casa, viajava seguindo a fumaça. Deus era testemunha que tentara. Tentara de todo o coração! Mas o perdão é uma dádiva. Naquele momento percebeu que não adiantava o quanto esforço fizesse, as feridas eram profundas demais para serem saradas. Mesmo que não fossem, deixariam enormes cicatrizes, difíceis de disfarçar. Estar próximo não estava e não iria funcionar. O desejo é como o tabaco. Só se sente o sabor de verdade se não o experimentar por um tempo. Encheu seu peito com a fumaça inebriante de nicotina e a soltou devagar. Pegou o celular e mandou uma mensagem:

"Td bem Regina? Saudades"

-"Esposa, vou dar uma saída e já volto!"