A Brisa e Ele

Ele e a brisa

Ele chegou tão cansado, cansado de trabalhar naquele dia cinza, sentia falta de algo, mas não sabia o que era. Entrou em casa já tirando casaco pesado do ombro, foi aos poucos se despindo e entrou embaixo do chuveiro, ele encostou suas duas mãos na parede e deixou a água morna cair nas suas costas. O barulho da água o acalmava, aos poucos ele foi recuperando as forças, enquanto a água caia ele sentiu uma presença, um perfume no ar, algo inexplicavelmente mágico. Não havia mais ninguém ali, ele estava sozinho, então porque sentia essa “coisa” que nem ele sabia descrever. Saiu do banho e ainda coberto pela toalha que enrolou na cintura foi até a sacada, porta estava aberta, sentiu o frio que arrepiou todo seu corpo, mas não saiu de lá... Ficou sentindo aquela brisa que o excitava, ficou tão estranhamente excitado que fechou os olhos e se deixou beijar pela brisa fria, ela percorreu cada centímetro de seu corpo, ela violava seus ouvidos com sussurros, o tocava como se o conhecesse por inteiro e ele foi se entregando aquele momento até querer tocar aquela brisa que quase tinha corpo, que o possuía ali, em pé. Seu celular começou a tocar e ele despertou daquele transe, olhou ao redor e se viu sozinho, agora só o barulho do celular tocava, mas ele não atendia... Sentou na cadeira ainda de toalha e olhou lá fora... Na rua algumas folhas voando com o vento... A brisa saiu como entrou... E o deixou pensando em algo que ele não sabia explicar.

A Brisa e ele

Ela chegou de mansinho e não se fez notar. Viu quando ele jogou o casaco em um sofá e se despiu antes de entrar embaixo do chuveiro, ela o acompanhou até ali, se misturou na água que caia em seu corpo o acariciou lentamente. Sabia que ele ia senti-la, de qualquer maneira sabia, usava as gotas de água para acariciar seu corpo. Quando ele saiu do chuveiro ela o conduziu com seu perfume, com sua presença invisível até à sacada, no fundo ele sabia que ela estava ali. Ela sentiu sua entrega enquanto ela lambia seu corpo com suas partículas invisíveis, viu quando ele fechou os olhos de prazer e também se entregou aquele doce e único momento. Quando seu celular tocou ele despertou para o mundo real e ela, triste e conhecedora de seu destino, foi embora com o vento, o olhou lá da rua e ainda o viu mirando a folha em que ela se agarrou para ter coragem de ir embora. Ela não entende que esse amor é impossível. Como uma brisa pode se apaixonar por alguém real?

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 15/04/2020
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