O menino do semáforo

Ela perdera a conta do número de vezes que tinha passado por ali. Quanto tempo fazia, dois anos? Talvez três. E sempre que tinha que parar naquele semáforo, a mesma cena cortava-lhe o coração.

O moleque, muito magro e que parecia sofrer de um resfriado permanente, vinha até a janela do carro.

Ela já trazia no console as moedas da esmola, e gostava de ver o brilho nos olhos do menino quando as recebia:

- Brigado, tia. Fica com Deus.

Ela sentia então que levava no seu próprio olhar um pouco do brilho dos olhos do menino.

Era bem pequeno quando começou a pedir. Agora tinha até crescido um pouco, mas continuava magríssimo. E resfriado.

Pensava nele – o menino do semáforo - sempre que separava as moedas para prover o console e, às vezes, até pedia por ele em suas orações.

Naquela sexta-feira teve happy hour com colegas do escritório e aconteceu de passar bem mais tarde por ali. Parou quando o semáforo fechou e logo viu o menino. Olhou para o console, mas ali não havia dinheiro algum. Ela o usara para a gorjeta ao flanelinha que tomara conta do seu carro.

Ao seu lado, na janela, o garoto espera.

Ela se curva e apanha a bolsa vermelha que costuma trazer escondida em baixo do banco do motorista.

Os olhos do garoto brilham:

- Brigado, tia. Fica com Deus – diz como sempre, e desaparece nas sombras da noite levando a bolsa.

Atrás do seu, outros carros começam a buzinar impacientes, mas ela não sai dali. Sente um aperto no coração quando se dá conta de que o garoto cortou sua garganta.

luca barbabianca
Enviado por luca barbabianca em 28/05/2011
Código do texto: T2998519
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