LISAURINHA VAI À MISSA

Casou-se “bem” como diria o povo naquele tempo. O marido, homem bem apessoado, dono da única loja de tecidos do lugar, encantou-se de seus olhos verdes e do jeitinho faceiro. A João Basílio pouco importava que a esposa viesse lá da roça, com sua fala simples e seus trejeitos meio acaipirados. Era a mulher de sua vida e... Caso encerrado!

Logo, logo, Lisaurinha ia se inteirando dos costumes das “mulheres da sociedade” local. Um deles, ir à missa de Padre Locáldio. Aprontava-se com esmero: o rico vestido de tafetá, as luvas de renda, os sapatinhos de salto, o chapéu de laço... Debaixo do braço, o véu dobrado e o livrinho das rezas, este, muito mais para compor o figurino, pois que não sabia fazer a letra “O” com o fundo de um copo... Que dirá ler as letrinhas miudinhas do missal...

Domingo cedinho, lá está Lisaurinha se concentrando para a missa das sete. O livrinho aberto sobre o colo, olhos baixos sobre as páginas, ela move os lábios como quem lê fervorosamente uma oração. Ao seu lado, Deolinda, rainha do enxerimento, não perde um só movimento da mais nova dama do arraial. De repente, olhos arregalados, vai dizendo num rompante:

— Uai, dona Lisaurinha, tá lendo o missal de cabeça pra baixo?

Pega em flagrante, a jovem senhorinha não se embaraça:

— É a ingnorança da impregada lá de casa... Marcou errado a fôia pra mim lê... Procê vê, sá!