O esquecimento

Chegara cedo ao velório do amigo Paulo.

Dos que lá estavam, só conhecera Sílvia, a viúva. Apresentou-lhe formalmente seus sentimentos e ficou a um canto observando o movimento. Nesse empenho, foi identificando alguns dos presentes pelas conversas.

( - Seu irmão foi uma boa pessoa, minha querida.

- Obrigada, minha amiga.

Ouviu também Sívia dizer a uma senhora que entrava:

- Tia! O tio Sérgio não veio com você, não?

- Está comigo sim. Parou no caminho para falar com seu primo Agenor.)

Horas depois, nota que um sujeito parece estar dando em cima da viúva. Presta mais atenção e faz a constatação óbvia: realmente o homem faz a corte à Sílvia e ela não se faz de rogada; o flerte é recíproco, não resta dúvida.

Num ápice vem-lhe a lembrança Nelson Rodrigues com seu personagem Palhares, o canalha, e um resto de frase: às vezes o esquecimento vem antes que murchem as flores do caixão.

luca barbabianca
Enviado por luca barbabianca em 07/09/2011
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