PICOLÉ

Numa dessas exposições de animais que acontecem de vez em quando, meu vizinho levou as quatro filhas para o parque onde animais de todas as raças eram expostos à visitação pelos outros animais, os humanos.

Na volta, cada uma das meninas trazia, triunfalmente, nas mãos um saco de papel cheio de furinhos com um pintinho colorido dentro. Tinha pinto azul, verde, rosa e cenoura.

Os dias se passaram, as penugens deram lugar às penas e os pintos já crescidos, todos absolutamente iguais, tiveram seus nomes misturados, pois ninguém mais sabia que pinto pertencia a quem.

Como eram quatro meninas e quatro pintos, cabia um para cada uma, mas como normalmente acontece, o encargo de alimentar os animais ficou para os adultos da casa.

Crescidos eram três fêmeas e um macho que foi batizado em alto estilo com o pomposo nome de Picolé.

Ouvindo os galos da vizinhança, Picolé aprendeu, e bem, a cantar a melodia que antecede o alvorecer de cada dia.

Uma a uma, as suas companheiras foram se transformando em almoço ou jantar de forma que só ficou Picolé, solteiro e dono absoluto do terreiro em que morava.

As meninas que se intitulavam donas do Galo bonitão, davam um escândalo cada vez que se aventava a hipótese de Picolé ter o mesmo destino das irmãs.

Seu canto forte saldou, por mais de doze anos, o sol matutino até que num dia qualquer, seu canto não foi ouvido.

Picolé havia morrido de velhice durante a noite e o sol, nesse dia, se nasceu silente e triste.