Lembranças
Olhando pra trás a menina percebe com que coragem eles sobreviveram...
Guarda no peito os segredos das palavras perdidas, não ditas na hora correta, relembra da data em que seus irmãos retornaram da escola com a cabeça raspada com navalha, lembra bem como eles se sentiram submissos e desditosos... estavam com piolho e não eram "ninguém", não tinham ninguém por eles.
Queriam qualquer cantinho na alma de alguém que já tinha partido e não permaneceu lá pra protegê-los...
Qualquer um resolvia que tinha possibilidade de raspar suas cabeças, tinham conhecimento de que ninguém ia manifestar insatisfação.
Seguiam e sentiam o vazio do dia, ou da noite rompendo a madrugada, e no instante em que a manhã chegava uma angústia se apoderava da menina, era desagradável não saber o que ia acontecer... seu delírio era contínuo...
Todo aquele sentimento de solidão ficava louco e se chocava em oposição à razão...
Ser uma sobrevivente não era proveito...
Ela queria ser cuidada e estava com dó dos irmãos com suas cabeças rapadas, ela não compreendia...
-Por qual razão?
Era uma pergunta que produzia eco em seu intelecto.
Produz eco até hoje.