Autoestrada

A autoestrada nascia de uma rotatória, serpenteando no meio dos pinheiros. Floresta de pinheiros onde pululavam os gaviões e as seriemas. Onde um dia lobos caçaram. Agora um garoto vomita um sorvete no gramado mal aparado do acostamento. Passo pelo resort, passo ao largo da represa do Lobo, o sol brilha refletido nas águas calmas do balneário, mas só consigo vê-las num relance, um intervalo entre um pinheiro e outro, como um homem que olha de rabo de olho e vê o reflexo do sol num espelho. Há muito tempo atrás, guiei por outras linhas amarelas que cruzavam o asfalto preto, outra autoestrada. Cortando Vigo acompanhei suas linhas amarelas até o horizonte.
No céu límpido uma aeronave cruzou o zênite. Provavelmente decolou do aeródromo dr. José Augusto de Arruda Botelho, onde ano passado houve uma explosão. E numa bola de fogo um piloto alçou seu último voo.

Em outra vida, Vigo. Agora, cruzando a rodovia Ayrton Senna. Algumas memórias deveriam fenecer como folhas no outono. No rádio do automóvel soava uma música entrecortada: "Can you see me?... Can you something?".

 
Mauricio R B Campos
Enviado por Mauricio R B Campos em 20/02/2014
Reeditado em 08/07/2014
Código do texto: T4699121
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