O VATICÍNIO

O vaticínio

(Miguel Carqueija)



— Eu vejo aqui que o senhor se encontra em grande perigo. Deve tomar muito cuidado.
— Um senador sempre corre perigo, minha cara. Olhe, se quer saber eu só vim aqui porque a minha esposa insistiu. Se quer que eu acredite na sua bola de cristal, diga exatamente qual é o perigo.
A velha alisou um pouco a sua bola e respondeu:
— O que eu vejo, seu doutor, é que o senhor poderá ser atingido pela explosão de uma marquise. Isso, é claro, se o senhor não tomar cuidado. Quando a gente sabe de antemão, sempre há uma chance de evitar.
— Ora, ora, dona bruxa! Como eu posso levar isso a sério? Até onde eu sei, marquises não explodem! Elas podem desabar, é claro, mas eu nunca paro em baixo de uma...
— Meu senhor, eu apenas digo o que vejo. A visão me disse isso. Como é que a marquise vai explodir, eu sinceramente não sei.
O Senador Estácio Caminha pagou a mulher malgrado seu, pois tudo aquilo lhe soara ridículo, e se retirou com uma grande sensação de perda de tempo.
Dias depois encontrava-se na sede da Confederação Nacional de Comércio, participando de um banquete de empresários. Enquanto aguardava o serviço — e comia-se pantagruelicamente em tais ocasiões — foi até uma sacada fumar um pouco. Admirava as estrelas quando o mordomo de “smoking” aproximou-se dele.
— Senador Estácio, pode me conceder um momento?
— Sim? O que deseja, Ananias?
— Senhor, eu sou membro da Liga de Defesa Intransigente da Amazônia, que o senhor está destruindo com a sua madeireira.
O senador entrou em pânico e tentou fugir, mas em vão, pois o fanático acionou a bomba que trazia num dos bolsos. Uma fração de segundo antes de morrer, Estácio lembrou o nome completo daquele homem: Ananias Gedeão Marquise...