Fugas noturnas

Era realmente difícil pegar no sono. Gil aparentemente queria dormir quando puxou as cobertas e cobriu ate a cabeça. Mas as lembranças eram persistentes...

- Boa noite Diana.

- Boa noite Gil.

Alguns minutos se passaram e tudo parecia quieto. Diana já estava dormindo. Ele parou de respirar por uns segundos para escutar e se certificar se ela decerto dormia. A noite estava fria e úmida. Podia-se ouvir o vento tentando penetrar pelas frestas da janela de madeira da sala. Então ele se remexeu nas cobertas e esbarrou em Diana de propósito. Nada, dormiu. Olhou para a mesinha de cabeceira e pegou o celular. Olhou as horas, 01h45. Levantou-se com extremo cuidado para não acorda-la. Andou descalço para não arrastar chinelo pelo corredor e foi ate a área de tanque. Vestiu uma blusa de frio que já estava ali dependurada. Escovou os dentes, pegou a carteira e contou duzentos Reais. Foi ao espelho e passou o pente nos cabelos quase crespos.

Andando rápido, parou. Estacionou em frente à porta do quarto onde sua mulher dormia satisfatoriamente. Estava com uma expressão de quando eles se casaram. Um sorriso meigo no canto da boca. Gil ficou ali. Tentando entender, responder a si mesmo. As perguntas eram muitas e ele não achava nenhuma resposta, nem mesmo a mais simples delas: O que estou fazendo? Mas as lembranças eram persistentes e em vez de prazer machucavam.

Ela estava linda. Quando entrava a primeira coisa que buscou foi o rosto dele no altar. Abriu um imenso sorriso como o da primeira vez que se conheceram. Vestia um modelo medieval com uma longa calda que vinha se arrastando pelo imenso corredor. O pai sorridente entregava a filha ao genro e fazia um “jóia” de aprovação piscando um olho.

- Conto com você! Cuide dela!-avisava de antemão.

- Cuidarei sempre.

“Então, Gil te espero lá”. Era mais forte que ele jamais foi. Abriu a porta sem se importar com o barulho. A mulher se apertava o máximo que podia em seu travesseiro e chorava copiosamente a dor que avassalava o seu coração. Sozinha agora. Sozinha como sempre esteve.

Geovani Silva
Enviado por Geovani Silva em 11/08/2014
Reeditado em 11/08/2014
Código do texto: T4918967
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.