O esquilo e a chaleira

Hoje a tarde, eu estava preparando chá. Coloquei a chaleira no fogo e fiquei esperando do lado, neutro.

Se olhamos para a água, durante um processo de fervura, tudo parece demorar muito tempo. No começo é estável, tudo parado, de repente percebemos alguma mudança no fundo da chaleira, pequenas nuvens de água mais quente começam a se mover. Depois começam a se formar também pequenas bolhas aderidas às paredes da chaleira.

Não adianta, pode-se observar muito de perto, mas nunca dá para perceber o momento exato da primeira nuvem, ou da primeira bolha.

Dizem que há muito tempo atrás, um homem no interior da Inglaterra conseguiu um dia ver a primeira bolha, mas acho que é mentira.

Enfim, depois sim começa um movimento mais agressivo que vai ficando forte, rapidamente se torna caótico e de repente, já exaustos, nos damos contas que sim, a água está fervida.

Mas sem muita demora, quero continuar meu relato. Finalmente a água ferveu, coloquei a água na xícara, e depois adicionei o pequeno sachê de chá de mate tostado. Tem um tempo tão ideal para deixar o sachê na água que eu nem quero começar, é tão complexa essa análise que não posso formular.

Tomei o primeiro gole, com medo de agulhar o lábio, e olhei pela janela.

Lá perto da mangueira verde, estava o esquilo, roendo algo com as patinhas, o clássico. Nesse momento eu pensei, observar esse esquilo pode ser tão complicado como observar a chaleira.

O esquilo surge do nada, geralmente não somos os primeiros a vê-los. Quando olhamos eles estão geralmente já muito agitados, loucos para desaparecer. Então, depois de comer algo muito rapidamente, ou de dar pequenos saltos quase retangulares, o esquilo desaparece. E acreditem, enxergar o exato momento que eles desaparecem é praticamente tão difícil quando ver a primeira nuvem ou primeira bolha na chaleira. Você se distrai com alguma coisa, uma borboleta besta, a fala de alguém, uma folha caindo, e logo já foi, perdeu o sumiço do esquilo. Não dá para ver o momento exato em que ele deixou seu campo de visão, se foi entrando detrás daquele galho apodrecido no chão, ou pulando para a outra árvore, ou simplesmente quando acabou de entrar no buraco na árvore; não dá para ver o momento exato que o último pedacinho da cauda dele desapareceu no buraco da árvore.

Aquele inglês, que supostamente via os momentos exatos, eu fico me perguntando: será que ele conseguia ver o momento exato dos sumiço dos esquilos?

Será que ele percebeu, o momento exato antes de deixar de existir?

O chá esfriou e o esquilo sumiu, claro, não vi.