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EU ME CONFESSO…
 
Fui um felizardo… O meu dono comprou-me num Natal para dar ao seu filho, o Tonecas. Eu já era crescidinho, muito brincalhão. O Tonecas gostou muito da prenda, jogava comigo à bola todos os dias, eu dava pulos, era o brinquedo preferido…
Os meses passaram, fui sempre bem tratado, os meus donos cuidavam bem de mim, davam-me ração da mais cara, de vez em quando também me deixavam comer um petisco, um bocado de carne assada da refeição deles. Todos os dias ia à rua, dar um passeio e fazer as necessidades.
O tempo foi passando até que um dia o meu dono ficou no desemprego. Aí começaram as discussões, de uma vez ouvi a minha dona dizer que teria sido preferível não me terem comprado… Fiquei muito triste. Essa tristeza estava nos meus olhos mas ninguém reparou nela.
O meu dono começou a bater-me sempre que eu fazia alguma asneira, por pequena que fosse...
Um mês depois, já noite, o meu dono disse à esposa que pela manhã iria levar-me para bem longe dali, dar-me sumiço. Olharam-me os dois e eu percebi que dali não iria sair coisa boa. E a meio da noite fugi.
Corri, corri, o frio a gelar-me o focinho e as orelhas, afastando-me o mais possível dali…
Subi e desci estradas, caminhos enlameados, andei pelo meio do mato… Corri sem destino por montes e vales. Sujo, por vezes era escorraçado pelos pastores se me aproximava para mendigar algum pedaço de pão ou de carne seca.
O tempo escoou-se numa luta tenaz pela sobrevivência.
Agora, passados dias de fome e frio, magro, tirito abrigado sob um monte de tábuas, sem saber nada do amanhã. Tenho saudades do lar onde vivi, do Tonecas, dos pais, mas sei que ali nunca mais terei acolhimento, carinho, comida…
Então, resta-me olhar para o Céu e esperar que o Deus dos animais, se existe, tenha piedade de mim…
 
 






 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 21/07/2015
Código do texto: T5318719
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