PESADELO

Ao sabor de licores e agrados, Maya se deixava levar por instantes felizes. O êxtase era pressentido.

Maya teve o necessário cuidado na escolha do vinho e dos alimentos. Era a primeira vez que recebia Onírio em sua casa. O jantar tinha um importante papel a representar na arte da sedução.

O aroma de ervas e especiarias finas inundava o território da cozinha. Ela preparava as carnes, enquanto a conversa fluía trivial e agradável.

Em dado momento, Onírio precisou ir ao banheiro. Ao retornar, em cuidadoso silêncio, desejou, carinhosamente, surpreender à anfitriã. O inesperado deliberou que Maya se virasse de súbito. Com isso, a faca pontiaguda que usava para preparar o manjar, atingiu o coração de Onírio.

O mundo desabou. Nuvens encobriram os astros. Raios e trovões inquietaram os céus. Maya descontrolou-se. O socorro médico seria em vão. Onírio fora atingido de modo irreparável.

Após ingerir alguns comprimidos para controlar a excitação nervosa, ela resolveu administrar o ocorrido. Para evitar aborrecimentos, achou que seria melhor omitir o fato. Surgiu-lhe a ideia de se livrar do cadáver.

Maya analisou exaustivamente as possibilidades vinculadas ao seu propósito, até que, consumida pelo choro e sob o efeito da medicação, jogou-se na cama e perdeu os sentidos.

Pelas tantas, bateram à porta. Antes de qualquer coisa, Maya se foi desesperada em direção à cozinha. Ao chegar, não avistou o cadáver e nem vestígios do infortúnio. Surpresa, observou que os alimentos selecionados para o jantar aguardavam preparo. Sem saber em qual mundo habitava, ela se viu perdida. Era necessário despertar para continuar sonhando, ou para afundar de vez no pesadelo.

As batidas à porta eram cada vez mais insistentes.