DÉJÀ VU

Às 15 horas e 02 minutos de um dia e tempo qualquer, ecoa prenunciativo o canto triste de um pássaro que sobrevoa o jardim da antiga morada.

Acamado, Nigídio olha em direção à janela que emoldura a vegetação. Ele ainda pode ver as folhas do arvoredo que reagem discretas ao adágio da brisa. Depois, em esforço final, murmura ao ouvido de Antéia:

- Voltaremos a nos ver.

Antéia não tem certeza:

- Como saberemos?

Faltam palavras para qualquer resposta.

Nigídio e Antéia, cada qual ao seu tempo, submetem-se ao inevitável.

O acervo dos ventos conduz o ruído de árvores centenárias. Vibram águas cristalinas entre rochas e séculos. Passam os mundos. A vida engenhosa flui nas oitavas do infinito.

Ao sobrepor das épocas o vaivém das pessoas... A dinâmica dos costumes...

Mas eis que o relógio da estação do metrô mostra 15 horas e 02 minutos de um tempo atual.

Uma elegante mulher, na companhia de um cavalheiro, desperta a atenção de um transeunte que é magnetizado de maneira inexplicável.

Confrontados na brevidade, a mulher e o fascinado transeunte não são mais Antéia e Nigídio. Mesmo assim, após o inevitável (re)encontro, vibram na mesma frequência. Em cada íntimo, a convicção de que tudo se desenrola como planejado em alguma parte do universo.

Ao destino caberá os necessários ajustes.