Visões de uma Glândula - III
 
Não muito longe, uma idosa à janela compõe um retrato realista em preto e branco. Debruçada, os seus olhos vitrificados pelo tempo olham uma rua ameaçadora - um mundo a ela inacessível - e vê tão somente  o que não mais existe.
Ao meu lado, um pardal faz um pouso cambaleante na calçada e, ofegante, aspira o último fôlego do mundo. Já com suas pálpebras cerradas, eu o colho nas mãos e o sepulto junto às raízes de uma árvore. Também eu, em alguma esquina do mundo, farei o meu pouso forçado e aspirarei o meu último fôlego. Então Mãos imponderáveis irão colher-me com a certeza última de que as minhas asas sempre foram pó de cinzas, apesar de achar-me, por tanto tempo,  imbatível em meu voo através de céus azuis.

Continua...