Menino

Havia um menino sentado no canto na sala. Havia um menino sentado sozinho no canto da sala. Havia um menino que pensava. O menino ficava vermelho. Havia um menino no canto da sala que escrevia seus pensamentos por meio dos versos. Havia um menino, apenas um menino que julgava ser só si, e de si só vivia.

Havia um professor no meio da sala. Havia um professor em pé sozinho no meio da sala. Havia um professor que julgava pensar. O professor ficava vermelho. Havia um professor no meio da sala que transmitia só os pensamentos alheios por meio de frases de efeito. Havia um ser, apenas um humano que julgava a todos, e vivia de seus julgares.

Havia alunos em toda sala. Havia alunos que não ouviam o professor do meio da sala. Havia alunos em toda sala. Alunos que faziam barulho. Os alunos ficavam vermelhos. Havia alunos em toda sala que falavam por falar. Havia normais em toda sala, normais que vivam de suas normalidades.

Havia alguém que queria escrever e descrever uma sala. Mas o menino não deixa, o professor não quer, os alunos não sabem. Havia alguém que queria se aproximar do menino da sala, mas o professor não deixa, o menino não sabe, os alunos não querem.

Ainda continua existindo o menino da sala. Havia alguém que queria ouvir teus pensamentos, e escrever um poema deles. Havia alguém que tentava escrever do menino poeta que insistia ficar no meio da sua solidão, e no canto da sala.

Menino vem cá. Quero ouvir-te e fazer sabedor dos teus conhecimentos. Venha cá menino, diga ao professor do que a vida é feita e de que são feitos os pensamentos alheios. Venha até nós menino, com teus poemas, desabafos e cansaço.

Há um outro lugar na sala. Há um lugar perto da janela. Há um lugar na sala, muito melhor, perto da janela que está aberta e entra sol. Vá até lá. Olhe para fora, estou ali.

Havia uma sala no canto da escola. Havia uma escola no meio da cidade. Havia uma cidade entre outras cidades. Havia um menino neste mundo, o mundo das cidades que dentre outras escolas, alguém de fora quer vê-lo.

Há um menino no meio deste poema. Mas não é um poema abismo. Há um menino num canto do abismo mas que não é este poema. Há um menino, há uma sala, há uma janela, há um abismo, há uma escolha, estamos aqui.